Moacir Jorge Rauber
Li algumas notícias do consenso alcançado entre os países da União Européia sobre a necessidade de maior controle na chegada e aceitação de imigrantes aos países que a compõe. Entrei num chat que expressava a opinião dos brasileiros sobre a questão e vi que a grande maioria chiava horrores, dizendo, “Mas como assim, limitar o número de imigrantes!!! Quando eles vieram ninguém falou nada”, “Agora que roubaram tudo da gente não querem que a gente vá até lá!”, “A gente temos que nos rebelar...” Essa última mostra completamente do que nós somos capazes. Tenho que concordar que o Brasil recebeu milhões de imigrantes de braços abertos, mas não porque somos bonzinhos, mas porque nos interessava, e muito. O Brasil recebeu imigrantes involuntários trazidos como escravos, porque interessava. O Brasil recebeu imigrantes europeus que sabiam como trabalhar na a agricultura, porque interessava. O Brasil recebeu imigrantes japoneses, que traziam consigo conhecimentos milenares, porque interessava. Assim o Brasil recebeu imigrantes de várias regiões do mundo porque realmente interessava e, quase, a sua totalidade trazia algo de positivo em sua bagagem ao aportar em nosso país. Quando não era conhecimento eram recursos para investimentos substanciosos.
O tempo passou e o Brasil dos brasileiros não aprendeu. Ao invés de absorver o que os imigrantes trouxeram de positivo até nós, conseguimos contaminar a grande maioria que chegou com o nosso jeitinho brasileiro de levar vantagem em tudo. Logicamente que vieram também muitos espertalhões, dos quais nós aprendemos tudo e ainda lhes ensinamos algo. Essa opinião esta expressa no texto “Um país de espertos”. A Europa, nesse tempo, passou por duas guerras mundiais, destruindo-se para posteriormente se reconstruir. Guerrearam, sobreviveram e aprenderam. Ressurgiram melhores. Apesar dos problemas econômicos resultantes do sistema vigente, que não entra na discussão, construíram uma realidade desejada no sonho de muitos. Países relativamente harmônicos, com a maioria da população vivendo em boas condições, sem maiores problemas de ordem de sobrevivência. Mas isso foi resultado da adoção de bons costumes e hábitos de respeito. Bons costumes como trabalhar dignamente sem, contudo viver para o trabalho. Hábitos de respeito para com o patrimônio individual e coletivo. Com essa prática pode-se circular nas ruas da grande maioria das cidades européias sem o pavor de ser assaltado, extorquido ou mesmo seqüestrado que nos assola no Brasil. Enfim, pode-se tudo o que deveria ser normal e corriqueiro em qualquer parte do mundo, caso as pessoas soubessem respeitar o próximo, assim como o que é do próximo. Vendo essa realidade dos sonhos muitas pessoas residentes em países como o Brasil gostariam de fugir de suas realidades, um desejo natural. O problema é que essas pessoas simplesmente se jogam num navio ou pegam o primeiro avião desembarcando nesses países sem eira nem beira. Rapidamente o sonho desaparece, porque as dificuldades encontradas são muitas. Aquela maravilha que se vê existe para quem nela está inserido, principalmente pelo trabalho. Aqueles que simplesmente chegam terminam por criar um problema social grave. Uma pessoa em dificuldades, mesmo sendo de boa índole, relembra as situações vividas em seu país de origem e passa a perceber como os habitantes da Europa são “descuidados” com as suas casas e com os seus pertences. Em pouco tempo estão envolvidos com pequenos crimes e furtos, levando para estes países novos costumes, como citado no texto “Flanelinhas, mais uma exportação brasileira”. Infelizmente nós não aprendemos o que a Europa tem de bom para aplicar no Brasil, nós apenas queremos usufruir o que eles têm.
Deste modo concordo em gênero, número e grau com a postura da União Européia de restringir a chegada de imigrantes. Essa restrição limita o acesso a quem tem trabalho previamente contratado a partir de sua origem ou a quem tem algo a contribuir. Não é uma questão de elitizar, mas é uma questão de preservar, pensando globalmente. Os problemas da Europa são menores? Ótimo, vamos mantê-los assim e não recriá-los com o aumento de uma população sem qualificação, sem trabalho e sem renda. Vamos aprender e transpor esse aprendizado para o Brasil. Alguns vão dizer, “Mas eles enriqueceram a custa da exploração de outros povos como o Brasil”. Em determinado momento isto até pode ser verdade, mas por outro lado se eles nos exploraram foi porque nós deixamos. Nós não tivemos guerras, furacões, nem grandes epidemias, nós apenas tivemos um mau caratismo constante que tem assolado sistematicamente nossas instituições, corroborando assim para que seguíssemos sendo explorados. Deste modo, apesar de ser um país jovem, como sempre se diz, nós tivemos tempo o suficiente para aprender, melhorar e construir um país digno e justo, mas não fomos capazes. Então não é justo querer invadir o que nós não soubemos fazer em nome de um revanchismo barato fundamentado na nossa própria incompetência. Temos condições de resolver os problemas por nós mesmos, desde que adotemos os bons costumes e os hábitos de respeito para criar o nosso modelo de prosperidade.