A proposta ao redigir este blog, Opinião, um texto para ler, avaliar, criticar e se posicionar, por meio de atitudes!, é de abordar assuntos que vão desde temas ambientais, profissionais e pessoais, deixando uma mensagem crítica com relação a eles e expressado mais uma de nossas FACETAS!
Não se pretende por meio da coluna obter apoio, muito pelo contrário, busca-se a avaliação, a crítica e o posicionamento dos leitores frente ao tema, exercitando a cidadania no ato de repensar nossas atitudes, fazendo com que cresçamos como pessoas. Além das críticas, sejam elas favoráveis ou contrárias a idéia apresentada no texto, o importante é que a leitura da coluna resulte em atitudes afirmativas frente ao problema tratado.
Pensar diferente não é o problema, o problema é não pensar!

domingo, 3 de agosto de 2008

Mensagens nas entrelinhas

Moacir Jorge Rauber

Por que escrevemos, falamos e lemos tanto nas entrelinhas? Seriam as entrelinhas a expressão do desejo de quem recebe a mensagem, que, ao não encontrar o conteúdo procurado explicitamente, busca algo imaginado por ele? Também seriam as entrelinhas, quando emitimos a mensagem, uma ferramenta para acobertar nossa falta de coragem ou falta de capacidade para expressar o que deveria ser expressado? Essas perguntas são feitas porque vivemos num país onde temos total liberdade de expressão, que nos garante o direito de usar palavras por inteiro, não sendo necessário emprego da artimanha das meias palavras. Sabemos que todo processo de comunicação tem um emissor, um receptor, um canal e uma mensagem a ser transmitida. Canal de comunicação é por onde a mensagem é transmitida, como TV, rádio, jornal, revista, cordas vocais, ar, entre outros utilizados pelo homem. A mensagem é o conjunto de informações a ser transmitida, utilizando-se de códigos, como palavras, gestos, desenhos, sinais de trânsito, etc., que consigam expressar a respectiva mensagem. Também exerce grande influência sobre as mensagens que são transmitidas, com relação a sua forma e conteúdo, bem como o canal a ser utilizado, o meio onde o emissor se encontra. Portanto, o mais natural seria que nos comunicássemos de forma clara, objetiva e direta o que se pretende transmitir, utilizando os recursos mais adequados para o meio onde nos encontramos, produzindo maior entendimento e minimizando o risco de problemas decorrentes desse processo. Mas mesmo assim, as entrelinhas são constantes em nosso processo de comunicação.

Considerem-se entrelinhas como o significado encontrado na interpretação de uma mensagem que não esteja explícito, que necessite de uma dedução mental para alcançá-lo. O sentido nas entrelinhas, pode levar a ilação, muitas vezes errônea, da verdadeira mensagem a ser comunicada. As entrelinhas também podem se revelar por meio de mensagens subliminares. Mas, de qualquer forma, o uso de diferentes significados nas entrelinhas no processo de comunicação é uma ferramenta importante na vida daqueles que, por um motivo ou outro, não querem explicitar exatamente o conteúdo a que se propuseram comunicar. Trata-se de um recurso de retórica, de estilo, enfim de uma ferramenta de comunicação que exige um maior grau de intelectualidade das partes envolvidas ou, pelo menos, de grande contextualização com relação aos recursos usados na transmissão da mensagem. Para o bem ou para o mal.

Justificadamente usa-se o sentido nas entrelinhas para manter o encanto e a magia, levando a sedução aos românticos e apaixonados. Usa-se o sentido nas entrelinhas nas poesias que comunicam muito além das palavras literalmente escritas. Usa-se o sentido nas entrelinhas na tela do artista, que neste recurso encontra uma forma de ampliar a grandeza de sua obra. Usa-se o sentido nas entrelinhas para provocar a reflexão sobre determinados assuntos, para despertar a curiosidade, fazendo com que a pessoa a quem se destina a mensagem construa seu próprio conhecimento, como na relação do professor com seu aluno. Usa-se o sentido nas entrelinhas para criticar um sistema, um regime ou uma ideologia que não permite ser admoestada ou censurada, sendo uma ferramenta importante na mão de críticos, jornalistas, escritores, entre outros formadores de opinião em países onde a liberdade é sistematicamente cerceada. Em nenhum destes processos de comunicação o sentido nas entrelinhas das mensagens denota falta de capacidade ou oculta intenções obscuras. Em todos eles o sentido nas entrelinhas presentes nas mensagens destaca o belo, o bonito, o bom e a boa intenção, seja explícita ou implicitamente, ressaltando a capacidade do ser humano de criar, de imaginar e de instigar novas interpretações para uma mesma mensagem, independentemente do modo como ela foi transmitida.

Por outro lado, o sentido nas entrelinhas também é utilizado por quem não deveria. Muitos diretores, gerentes e colaboradores nas empresas pecam ao não comunicar com sua mensagem tão somente o que ela tem a dizer. A mensagem deve ser clara, objetiva e direta, tendo um emissor e um receptor identificados, utilizando um canal que atenda as duas partes. Peter Drucker, guru da administração moderna, afirmava que 60% dos problemas das organizações empresariais se referiam as falhas de comunicação, causadas pela falta de clareza, agigantando problemas e criando confusões pelo sentido dúbio das mensagens, ou seja, pelo uso de sentido nas suas entrelinhas. Para os casais, quando se trata de enaltecer o belo, estimular o romantismo é perfeitamente compreensível o uso de sentido nas entrelinhas, embora não haja necessidade de seu uso para as comunicações práticas no dia a dia. Dizer o que deve ser dito com educação e respeito nos acertos da vida pessoal, certamente garantirá um relacionamento mais tranqüilo e duradouro. Pode-se destacar também o uso inadequado de sentido nas entrelinhas das mensagens nas religiões, que usam e abusam da linguagem figurada para explicar o que não tem explicação, mantendo a dependência dos seus seguidores sem questionamentos mais contundentes.

Por fim, dois outros exemplos de uso inadequado de sentido nas entrelinhas das mensagens, carregam consigo a má intenção, o desejo de ocultar o real significado da comunicação. O primeiro exemplo é dos criminosos, que usam determinados códigos e palavras com sentido trocado para realizar sua comunicação, impedindo que pessoas estranhas ao processo captem o conteúdo da mensagem. Os criminosos usam variadas e diferentes expressões para associá-las a mensagens completamente desconectadas de seu sentido original, como “saidinha de banco”, largamente usada pelos criminosos quando atacam as vítimas na porta do banco; “verme”, para identificar os policiais, e “salve”, que significa ordem. Em grande parte das comunicações entre criminosos, portanto, são encontrados sentidos nas entrelinhas das mensagens, com o objetivo claro de ocultar a verdadeira informação nelas contidas. O segundo exemplo de uso inadequado de sentido nas entrelinhas que traz consigo a má intenção, é a política. É prática comum no meio político brasileiro o uso da meias palavras, o uso de metáforas e o uso de expressões que não transmitem o verdadeiro sentido da junção das palavras que as formam. É freqüente, na retórica dos políticos profissionais brasileiros, a intenção de mascarar o verdadeiro sentido de suas mensagens para não precisar explicar o que deveriam fazer no uso de suas atribuições. A comunicação entre políticos e a população deveria ser clara e eficaz, pois não há sentido do uso de “meias palavras” se estamos numa democracia e temos a possibilidade de dizê-las, escrevê-las, enfim, de comunicá-las por inteiro.

Portanto, na política o uso de mensagens nas entrelinhas somente justifica a presença de políticos matreiros e desonestos, porque vivemos numa democracia que nos permite dizer o que deve e quando deve ser dito. Sabemos também, que no meio político, em muitas situações, sequer há sentido nas linhas, muito menos nas entrelinhas, porque falam o que não sabem sobre o que não conhecem para quem não olham, que é o povo. Oxalá alcancemos o dia em que as mensagens somente tragam sentido nas entrelinhas para ressaltar o belo, a emoção, a boa intenção, destacando a capacidade humana de ampliar o mundo por meio da imaginação e do mistério. Einstein dizia que "a mais bela emoção é o mistério. Se o homem soubesse de tudo, sua vida perderia a graça, pois a beleza está na curiosidade, no estudo, na pesquisa, na hipótese, na sensação de que sempre falta alguma coisa a saber." Mas sempre para o bem.

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