A proposta ao redigir este blog, Opinião, um texto para ler, avaliar, criticar e se posicionar, por meio de atitudes!, é de abordar assuntos que vão desde temas ambientais, profissionais e pessoais, deixando uma mensagem crítica com relação a eles e expressado mais uma de nossas FACETAS!
Não se pretende por meio da coluna obter apoio, muito pelo contrário, busca-se a avaliação, a crítica e o posicionamento dos leitores frente ao tema, exercitando a cidadania no ato de repensar nossas atitudes, fazendo com que cresçamos como pessoas. Além das críticas, sejam elas favoráveis ou contrárias a idéia apresentada no texto, o importante é que a leitura da coluna resulte em atitudes afirmativas frente ao problema tratado.
Pensar diferente não é o problema, o problema é não pensar!

domingo, 25 de maio de 2008

Insanidade Orgulhosa

Moacir Jorge Rauber
Há um orgulho insano, para muitas pessoas, no fato de viver numa cidade grande. Quantas vezes já se confrontaram com situações onde se ouve a explanação de um “importante” morador de uma grande cidade dizendo para o “pouco importante” morador de uma cidade pequena: “mas aqui não existe nada para se fazer!” Essa relação se dá frente a praticamente todas as grandes cidades, supostamente mais “desenvolvidas”, com relação as pequenas cidades, supostamente “menos desenvolvidas”. São muitos dos habitantes de São Paulo e do Rio que não se imaginam vivendo fora da “loucura” da vida moderna que esses centros lhes proporcionam; são muitos dos habitantes de Florianópolis que não se imaginam vivendo em Chapecó ou outra cidade do interior; são muitos dos habitantes de Chapecó que não se imaginam vivendo em São Carlos; e assim sucessivamente. E, sempre a principal argumentação de um com relação ao outro continua sendo que nas povoações menores não há nada para se fazer.

Muitos dos habitantes de São Paulo vivem em bairros mal iluminados, violentos e, muitas vezes, com pouca infra-estrutura básica. Além disso, estão distantes do trabalho, entre uma e duas horas, que os obriga a se levantar praticamente de madrugada. A partir desse momento, começa toda a movimentação. Toma-se um banho rápido, pega-se um ônibus, enfrenta-se um engarrafamento e depois de toda essa agitação chega-se ao trabalho, muitas vezes atrasado. Depois de um dia tumultuado, no qual não se tem tempo para pensar nas suas necessidades e nas de seus familiares e amigos, retorna-se para casa. Logicamente, depois de enfrentar novo engarrafamento, completamente exausto. Em função da “importância que a pessoa tem para o sistema”, cada vez menos se tem noção do que seja um final de semana ou domingo completamente sem nada para fazer. E cada cidadão tem a impressão de continuar sendo imprescindível para que todo o sistema continue funcionando.
Essa rotina se repete em cidades como Florianópolis, Curitiba, Porto Alegre entre outras tantas capitais brasileiras, onde as pessoas são apenas mais uma no meio da multidão. Quando, por fim essas pessoas têm uma semana de folga ou mesmo um mês de férias, vão buscar suas origens nos parentes das cidades pequenas. Nesse passeio os encontram morando na mesma rua, na mesma casa ou no mesmo sítio, com a mesma rotina de 10, 15 ou 20 anos atrás. Encontram-se e começam as conversações: E aí, como está? Que é que você está fazendo? pergunta o morador “pouco importante” da cidade pequena. E lá vem respostas tipo, do “importante morador da cidade grande”: Tudo bem! Estou trabalhando numa empresa assim e assado, sem ela o mundo pára, meu trabalho é incrível. Começo pela manhã e trabalho até a noite, enfrento uns engarrafamentos tremendos. Às vezes chegam a durar duas horas sem se mexer. É que lá, na capital, tem muita gente, muitos carros, e tudo vira uma loucura. Toda essa explicação acontece de uma forma totalmente orgulhosa, por fazer parte de um “importante sistema” que transforma as pessoas, sem que muitas delas se apercebam, em “necessidades e necessitados do mercado”. Após essa eloqüência orgulhosa vem a pergunta: E aqui, o que vocês fazem?
A melhor e mais prazerosa resposta somente poderia ser Nada! Isto porque nas cidades menores e no campo ainda se tem tempo para não se fazer Nada. Ainda se tem tempo para admirar uma linda paisagem, para ouvir o canto de um pássaro, para observar as águas de um rio deslizando mansamente em seu leito, para tirar o leite de uma vaca, sabendo que ele vai servir de alimento. Tudo isso porque nas cidades pequenas ainda resta tempo para ouvir o silêncio ou mesmo para não fazer Nada. Na vida no interior ainda se reserva tempo para lembrar que as atividades de qualquer pessoa são perfeitamente substituíveis por qualquer outra pessoa que as execute da mesma forma, mas que as pessoas são únicas e insubstituíveis. Isto enquanto milhões de pessoas perderam sua individualidade e já não sabem viver sem consumir, sem comprar, sem estar no tumulto, sem viver num turbilhão de ruídos, poluição, entre outros males produzidos pelas grandes cidades, sendo insanamente orgulhosos por isso.

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