Ana Mari Doering Zamprogna
O ser humano parece des-humano - desumano - ou seja – perdeu a qualidade natural do humano – a sua humanidade – afetividade, coerência, capacidade de se relacionar, respeitar, amar, participar, sensibilizar-se, enfim, sua capacidade racional. Animalizou-se, voltou ao status indiferenciado dos outros animais - os ditos irracionais.
Essa capacidade humana, hoje, desumana, merece urgentemente uma reflexão/avaliação; uma explicação; e...uma decisão! É urgente!
Refletir e avaliar - além da indignação - pela história e momento atual - o que está acontecendo com o ser humano.
Formular, pelo menos, uma hipótese, uma pré-explicação para o resultado dessa avaliação; perceptível e de certa forma mensurável - para que se possa aquilatar sua extensão.
Decidir a respeito disso – se queremos continuar com a denominação de humanos e a suposta diferenciação dos outros animais – os irracionais.
Esse preâmbulo pretende colocar na pauta, na roda - a violência – como um fenômeno, um desequilíbrio, uma ocorrência que está acometendo o ser humano. De forma particular - a violência contra as crianças – dos adultos contra as crianças, de modo geral; da pedofilia, de modo especial.
É um desequilíbrio assustador - pelas proporções que se estão revelando, dia após dia.
Essa realidade revela, a princípio, o que já aconteceu com a mente dessas pessoas, principalmente dos homens (mas com a anuência de muitas mulheres).
Essas mentes não estão sãs. E estão adoecendo as mentes daqueles e daquelas que são submetido(a)s ao calvário dessa forma de abuso, tortura e degradação.
É humilhante, ao ser humano, ter descido tão baixo em seu juízo de valor – porque a ocorrência desse tipo de violência macula uma relação que deveria ser de amor, segurança e confiança. Essa violência parte de dentro das relações familiares, de convívio e amizade. Quando não, é uma relação mercadológica e animalesca, na acepção da palavra.
Da mesma forma que precisamos proteger todas as crianças, precisamos entender o que essa realidade nos apresenta. Precisamos encontrar meios de tratá-la – de tratar esses seres que já não são humanos, mas que também nasceram humanos.
Essas pessoas, esses seres que nasceram humanos, podem contribuir para a compreensão desse triste fenômeno. Podem nos levar ao entendimento, à compreensão, do que os levaram a tais extremos. Apenas prendê-los e deixá-los com sua desgraça e seu crime, de nada adianta. Isso não ensina e não pune. Mas o pior mesmo, é que não nos ajuda a proteger e cuidar de nossas crianças.
Para proteger nossas crianças, devemos apreender o que essa triste realidade nos mostra – para saber como enfrentá-la e como evitá-la, principalmente. Se não conhecemos suas origens, não podemos cortar-lhe as raízes.
Mas....será mesmo que não conhecemos as suas origens, as suas causas? Quem sabe tenhamos algumas pistas?
Que conceitos humanos adquire quem é condenado a viver de forma desumana, alijada de todos os valores, de se sentir pertencente a alguma coisa ou a algum lugar, a alguém? Que se sente desprotegido, descuidado e abandonado à própria sorte?
De outro lado, que valores adquire quem não convive com limites, não os respeita e não vislumbra qualquer impedimento às suas vontades primitivas e animalescas? Quem não apreende o sentido da vida - sua e dos outros - e, assim, não pauta sua existência em função de outras existências, mas as utiliza para sua odiosa decadência?
E o principal disso tudo é que precisamos tratar as crianças que sofreram abusos. Essas crianças merecem e podem passar a viver melhor, a confiar e a amar - a não se transformarem nos desumanos abusadores do futuro.
Na realidade, precisamos cuidar da espécie, da raça humana, para que continue humana! Neste planeta ou em qualquer outro. Neste mundo – neste nosso universo.
Chapecó/Brasil, 11 de Junho de 2008.
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