A proposta ao redigir este blog, Opinião, um texto para ler, avaliar, criticar e se posicionar, por meio de atitudes!, é de abordar assuntos que vão desde temas ambientais, profissionais e pessoais, deixando uma mensagem crítica com relação a eles e expressado mais uma de nossas FACETAS!
Não se pretende por meio da coluna obter apoio, muito pelo contrário, busca-se a avaliação, a crítica e o posicionamento dos leitores frente ao tema, exercitando a cidadania no ato de repensar nossas atitudes, fazendo com que cresçamos como pessoas. Além das críticas, sejam elas favoráveis ou contrárias a idéia apresentada no texto, o importante é que a leitura da coluna resulte em atitudes afirmativas frente ao problema tratado.
Pensar diferente não é o problema, o problema é não pensar!

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Chupar picolé e levar susto de carro

Moacir Jorge Rauber

Nasci e me criei na roça, com muito orgulho. Ser agricultor me dava prazer, mas não impedia de sempre ouvir umas tiradas dos amigos que moravam na cidade. Diziam eles que os agricultores somente iam à cidade para chupar picolé e levar susto de carro. Essa teoria se explica. Até final da década de setenta a maioria das residências dos colonos era desprovida de energia elétrica, e as pessoas tampouco possuíam carros. Mesmo aqueles que dispunham de tais luxos tinham em sua rotina poucos encontros com pessoas que não fossem do círculo familiar e não consumiam muitos dos produtos comuns para quem mora numa cidade, onde iam uma, ou no máximo duas vezes ao mês. Nestas idas à cidade encontravam mais novidades que os curiosos olhos podiam acompanhar, fazendo a cabeça girar frequentemente para poder admirar uma casa linda, um edifício enorme, pessoas bem vestidas e carros, muitos carros novos, velhos, bonitos e feios, uma imensidão de variedades. Assim, muitas vezes ao cruzar a rua os olhos se dirigiam ao lado contrário ao fluxo de veículos, que resultava em freqüentes quase atropelos e muitos sustos. Ao finalizar o dia de aventura na cidade, antes de retornar a sua casa, invariavelmente se comprava um sorvete ou um picolé, afinal, esse era um prazer de que não se podia usufruir na roça.

Esse sujeito que se admira com as novidades, com diferentes costumes, impressionando-se, espantando-se e apaixonando-se pela vida continua muito vivo em mim, apesar de já de ter deixado a roça há um bom tempo e circulado por muitos lugares exóticos deste nosso pequeno grande mundo. Lembrei-me dele com muita força logo que cheguei aqui em Braga – PT. Na minha primeira saída sozinho em minha cadeira de rodas pelas redondezas de minha residência fiquei zanzando, admirando a beleza do bairro, os jardins bem cuidados, as ruas bem sinalizadas, as pessoas caminhando em segurança, as calçadas em bom estado e com amplo espaço. Tanto espaço que não olhava por onde rodava e sim para os lados. A cabeça continuava girando, ansiando por ver coisas que não havia visto, novidades ou situações exóticas, resultado daquela curiosidade nunca completamente saciada oriunda lá da minha infância e adolescência agrícola. Às vezes eu ia bem devagarzinho, outras acelerava minha cadeira de rodas. Numa dessas aceleradas, com os olhos buscando algum detalhe antes não perscrutado, foi que as pequenas rodas dianteiras da cadeira se toparam com uma saliência na calçada. Foi um impacto e um tombo. A cadeira parou, mas eu deslizei para frente, estatelando-me no chão. Antes que eu a pudesse segurar ela correu para trás, distanciando-se uns cinco metros de mim. Lá estava eu, numa calçada da cidade de Braga em Portugal, sentado no chão sem alcançar a minha cadeira. Nisto vem uma mulher completamente distraída, mexendo em seu celular e quase tropeça em mim. Tive que alertá-la para não ser por ela atropelado, mas certamente seria melhor do que sê-lo por um carro.
Não foi susto de carro, nem um picolé para chupar, mas o resultado da curiosidade foi semelhante, porque a origem é uma FACETA que não se nega nunca.

3 comentários:

Anônimo disse...

Carissimo Moacir

Gostei da leitura.
Não acelere sua cadeira. Certamente ela tem muitas histórias e ensinamentos para nos transmitir.

Um grande abraço.

Do amigo Carlos

Anônimo disse...

Carissimo Moacir

Gostei da leitura.
Não acelere sua cadeira. Certamente ela tem muitas histórias e ensinamentos para nos transmitir.

Um grande abraço.

Do amigo Carlos

Unknown disse...

Fico feliz que tenha gostado da leitura e prometo que que vou "acelerar" menos minha cadeira.
Abraço
Moacir Rauber