A proposta ao redigir este blog, Opinião, um texto para ler, avaliar, criticar e se posicionar, por meio de atitudes!, é de abordar assuntos que vão desde temas ambientais, profissionais e pessoais, deixando uma mensagem crítica com relação a eles e expressado mais uma de nossas FACETAS!
Não se pretende por meio da coluna obter apoio, muito pelo contrário, busca-se a avaliação, a crítica e o posicionamento dos leitores frente ao tema, exercitando a cidadania no ato de repensar nossas atitudes, fazendo com que cresçamos como pessoas. Além das críticas, sejam elas favoráveis ou contrárias a idéia apresentada no texto, o importante é que a leitura da coluna resulte em atitudes afirmativas frente ao problema tratado.
Pensar diferente não é o problema, o problema é não pensar!

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Pato ou Cientista

Moacir Jorge Rauber

Numa conversa com um amigo ele expressou toda sua simpatia e admiração pela competência do Presidente do Brasil. Fiquei um pouco pasmado, mas deixei-o continuar falando, porque normalmente não discordo de ninguém em aspectos políticos ou religiosos. Entre seus comentários a impressão notadamente positiva sobre o desempenho do Presidente em seus mais variados, para mim desvairados, discursos o impressionava, porque apesar do pouco estudo “ele falava muito bem e fazia bonito diante das diferentes platéias”. Fiquei completamente indignado, principalmente ao perceber que o pensamento deste meu amigo representa a posição de quase 70% dos brasileiros. Nós não elegemos um presidente para “fazer bonito”, assim como ninguém contrata um encanador para falar bonito, porque quando alguém é contratado o é para desempenhar sua função com respeito e dignidade. O encanador deve conhecer de canos, mas caso saiba falar de música e poesia melhor. Assim como o presidente deve conhecer de relações internacionais, de comércio exterior, de soberania nacional, de respeito a constituição entre outras qualidades, mas caso tenha uma boa retórica melhor ainda. Nenhuma democracia precisa de um presidente que ignore tais assuntos, sob o risco de incorrer numa falha de caráter e de competência que avance sobre os direitos individuais dos cidadãos a quem ele representa.

Logicamente essas variantes não foram abordadas em nossa conversa, mas diferentemente de todas as outras vezes em que nos encontramos, nas quais não manifestei abertamente meu pensamento, desta feita lhe retruquei: “Não, acho que ele não faz bonito e não faz nada direito. Para mim ele é um pato com lábia.” A surpresa ficou estampada no rosto do meu amigo. Havia me lembrado de uma metáfora muito conhecida que fala das habilidades do pato. Alguns bichos estavam reunidos na floresta, entre eles um pássaro, um peixe, um coelho e um pato. Conversavam sobre suas habilidades e modos de lidar com as adversidades da vida. Sobre a possível aproximação de um caçador, disse o pássaro:
- Ah! se um caçador aparecer eu saio voando como um foguete, com toda minha força e energia...
O peixe, por sua vez, comentou sobre o assunto:
- Se aparecer um caçador, eu nado como nunca, com toda minha destreza e velocidade...
O coelho ponderou:
- No meu caso, se um caçador aparecer eu digo: "Pernas pra-que-te-quero" e corro como uma bala.
Demonstrando certo ar de superioridade, por causa da aparente limitação de seus companheiros, o pato deu um passo à frente e declarou:
- Se vier um caçador, eu não terei problemas em me safar, pois, além de voar, sei nadar e correr. Farei qualquer uma dessas coisas, pois tenho várias habilidades, usarei a que for mais conveniente.
A conversa seguia seu rumo quando, de repente, surgiu um caçador na floresta. Sem demoras o pássaro alçou vôo. O peixe nadou rapidamente para o fundo do rio e o coelho saiu em disparada. O pato, porém, foi apanhado. Com tantas habilidades, não conseguiu definir a tempo a melhor estratégia de fuga.
Da mesma forma o nosso (infelizmente é meu também) Presidente tem habilidades inegáveis, mas nenhuma delas foi desenvolvida ou aperfeiçoada satisfatoriamente. A sua retórica é fruto de uma aptidão natural, mas falta-lhe conhecimento para embasá-la. As suas metáforas encantam, mas são superficiais e levam ao engodo da simplificação de situações complexas. O linguajar é acessível, mas pobre, refletindo levianamente questões muito mais intrincadas do que as por elas expressas. Por fim, a falta de percepção sobre temas globais impossibilita seu entendimento de questões que afetam o quotidiano das pessoas a quem ele agrada com um discurso fácil e irresponsável. Deste modo, a diferença do pato da metáfora com o nosso presidente é que aquele não conseguiu se safar com uma boa conversa, enquanto este leva todo mundo no bico, falando uma asneira depois da outra, para um público que, como ele, tem grande deficiência de compreensão de assuntos que estejam interligados. Por fim, esta situação me fez lembrar de uma frase de Ruy Barbosa que diz, “Há tantos homens burros mandando em homens inteligentes que acredito que a burrice é uma ciência.” Talvez nosso Presidente não seja um pato, mas sim um... um cientista.

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