A proposta ao redigir este blog, Opinião, um texto para ler, avaliar, criticar e se posicionar, por meio de atitudes!, é de abordar assuntos que vão desde temas ambientais, profissionais e pessoais, deixando uma mensagem crítica com relação a eles e expressado mais uma de nossas FACETAS!
Não se pretende por meio da coluna obter apoio, muito pelo contrário, busca-se a avaliação, a crítica e o posicionamento dos leitores frente ao tema, exercitando a cidadania no ato de repensar nossas atitudes, fazendo com que cresçamos como pessoas. Além das críticas, sejam elas favoráveis ou contrárias a idéia apresentada no texto, o importante é que a leitura da coluna resulte em atitudes afirmativas frente ao problema tratado.
Pensar diferente não é o problema, o problema é não pensar!

domingo, 28 de setembro de 2008

Bons costumes e bons hábitos

Moacir Jorge Rauber
Li algumas notícias do consenso alcançado entre os países da União Européia sobre a necessidade de maior controle na chegada e aceitação de imigrantes aos países que a compõe. Entrei num chat que expressava a opinião dos brasileiros sobre a questão e vi que a grande maioria chiava horrores, dizendo, “Mas como assim, limitar o número de imigrantes!!! Quando eles vieram ninguém falou nada”, “Agora que roubaram tudo da gente não querem que a gente vá até lá!”, “A gente temos que nos rebelar...” Essa última mostra completamente do que nós somos capazes. Tenho que concordar que o Brasil recebeu milhões de imigrantes de braços abertos, mas não porque somos bonzinhos, mas porque nos interessava, e muito. O Brasil recebeu imigrantes involuntários trazidos como escravos, porque interessava. O Brasil recebeu imigrantes europeus que sabiam como trabalhar na a agricultura, porque interessava. O Brasil recebeu imigrantes japoneses, que traziam consigo conhecimentos milenares, porque interessava. Assim o Brasil recebeu imigrantes de várias regiões do mundo porque realmente interessava e, quase, a sua totalidade trazia algo de positivo em sua bagagem ao aportar em nosso país. Quando não era conhecimento eram recursos para investimentos substanciosos.
O tempo passou e o Brasil dos brasileiros não aprendeu. Ao invés de absorver o que os imigrantes trouxeram de positivo até nós, conseguimos contaminar a grande maioria que chegou com o nosso jeitinho brasileiro de levar vantagem em tudo. Logicamente que vieram também muitos espertalhões, dos quais nós aprendemos tudo e ainda lhes ensinamos algo. Essa opinião esta expressa no texto “Um país de espertos”. A Europa, nesse tempo, passou por duas guerras mundiais, destruindo-se para posteriormente se reconstruir. Guerrearam, sobreviveram e aprenderam. Ressurgiram melhores. Apesar dos problemas econômicos resultantes do sistema vigente, que não entra na discussão, construíram uma realidade desejada no sonho de muitos. Países relativamente harmônicos, com a maioria da população vivendo em boas condições, sem maiores problemas de ordem de sobrevivência. Mas isso foi resultado da adoção de bons costumes e hábitos de respeito. Bons costumes como trabalhar dignamente sem, contudo viver para o trabalho. Hábitos de respeito para com o patrimônio individual e coletivo. Com essa prática pode-se circular nas ruas da grande maioria das cidades européias sem o pavor de ser assaltado, extorquido ou mesmo seqüestrado que nos assola no Brasil. Enfim, pode-se tudo o que deveria ser normal e corriqueiro em qualquer parte do mundo, caso as pessoas soubessem respeitar o próximo, assim como o que é do próximo. Vendo essa realidade dos sonhos muitas pessoas residentes em países como o Brasil gostariam de fugir de suas realidades, um desejo natural. O problema é que essas pessoas simplesmente se jogam num navio ou pegam o primeiro avião desembarcando nesses países sem eira nem beira. Rapidamente o sonho desaparece, porque as dificuldades encontradas são muitas. Aquela maravilha que se vê existe para quem nela está inserido, principalmente pelo trabalho. Aqueles que simplesmente chegam terminam por criar um problema social grave. Uma pessoa em dificuldades, mesmo sendo de boa índole, relembra as situações vividas em seu país de origem e passa a perceber como os habitantes da Europa são “descuidados” com as suas casas e com os seus pertences. Em pouco tempo estão envolvidos com pequenos crimes e furtos, levando para estes países novos costumes, como citado no texto “Flanelinhas, mais uma exportação brasileira”. Infelizmente nós não aprendemos o que a Europa tem de bom para aplicar no Brasil, nós apenas queremos usufruir o que eles têm.
Deste modo concordo em gênero, número e grau com a postura da União Européia de restringir a chegada de imigrantes. Essa restrição limita o acesso a quem tem trabalho previamente contratado a partir de sua origem ou a quem tem algo a contribuir. Não é uma questão de elitizar, mas é uma questão de preservar, pensando globalmente. Os problemas da Europa são menores? Ótimo, vamos mantê-los assim e não recriá-los com o aumento de uma população sem qualificação, sem trabalho e sem renda. Vamos aprender e transpor esse aprendizado para o Brasil. Alguns vão dizer, “Mas eles enriqueceram a custa da exploração de outros povos como o Brasil”. Em determinado momento isto até pode ser verdade, mas por outro lado se eles nos exploraram foi porque nós deixamos. Nós não tivemos guerras, furacões, nem grandes epidemias, nós apenas tivemos um mau caratismo constante que tem assolado sistematicamente nossas instituições, corroborando assim para que seguíssemos sendo explorados. Deste modo, apesar de ser um país jovem, como sempre se diz, nós tivemos tempo o suficiente para aprender, melhorar e construir um país digno e justo, mas não fomos capazes. Então não é justo querer invadir o que nós não soubemos fazer em nome de um revanchismo barato fundamentado na nossa própria incompetência. Temos condições de resolver os problemas por nós mesmos, desde que adotemos os bons costumes e os hábitos de respeito para criar o nosso modelo de prosperidade.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A CRISE DA ECONOMIA AMERICANA explicada de forma didática

Origem: e-mail recebido de Vânia Mattozo

Porque crédito fácil não existe...

John comprou um apartamento, no começo dos anos 90, por 300.000 dólares financiado em 30 anos. Em 2006 o apartamento do John passou a valer 1,1 milhão de dólares. Aí, um banco perguntou para o John se ele não queria uma grana emprestada, algo como 800.000 dólares, dando seu apartamento como garantia. Ele aceitou o empréstimo, fez uma nova hipoteca e pegou os 800.000 dólares.

Com os 800.000 dólares, John, vendo que imóveis não paravam de valorizar, comprou três casas em construção dando como entrada algo como 400.000 dólares. A diferença, 400.000 dólares, que John recebeu do banco, ele se comprometeu: comprou carro novo (alemão) para ele, deu um carro (japonês) para cada filho e com o resto do dinheiro comprou TV de plasma de 63 polegadas, notebooks, cuecas. Tudo financiado, tudo a crédito. A esposa do John, sentindo-se rica, abusou do cartão de crédito.

Em agosto de 2007 começaram a correr boatos que os preços dos imóveis estavam caindo. As casas que o John tinha dado entrada e estavam em construção caíram vertiginosamente de preço e não tinham mais liquidez.

O negócio era refinanciar a própria casa, usar o dinheiro para comprar outras casas e revender com lucro. Fácil! Parecia fácil. Só que todo mundo teve a mesma idéia ao mesmo tempo. As taxas que o John pagava começaram a subir (as taxas eram pós fixadas) e John percebeu que seu investimento em imóveis se transformara num desastre.

Milhões tiveram a mesma idéia do John. Tinha casa para vender como nunca.

John foi agüentando as prestações da sua casa refinanciada, mais as das três casas que ele comprou, como milhões de compatriotas, para revender, mais as prestações dos carros, das cuecas, dos notebooks, da TV de plasma e do cartão de crédito.

Aí as casas que o John comprou para revender ficaram prontas e ele tinha que pagar uma grande parcela. Só que neste momento John achava que já teria revendido as três casas mas, ou não havia compradores ou os que havia só pagariam um preço muito menor que o John havia pago.

John se danou. Começou a não pagar aos bancos as hipotecas da casa que ele morava e das três casas que ele havia comprado como investimento. Os bancos ficaram sem receber de milhões de especuladores iguais a John.

John optou pela sobrevivência da família e tentou renegociar com os bancos que não quiseram acordo. Entregou aos bancos as três casas que comprou como investimento perdendo tudo que tinha investido. John quebrou. Ele e sua família pararam de consumir...

Milhões de Johns deixaram de pagar aos bancos os empréstimos que haviam feito baseados nos preços dos imóveis. Os bancos haviam transformado os empréstimos de milhões de Johns em títulos negociáveis. Esses títulos passaram a ser negociados com valor de face. Com a inadimplência dos Johns esses títulos começaram a valer pó.

Bilhões e bilhões em títulos passaram a nada valer e esses títulos estavam disseminados por todo o mercado, principalmente nos bancos americanos, mas também em bancos europeus e asiáticos.

Os imóveis eram as garantias dos empréstimos, mas esses empréstimos foram feitos baseados num preço de mercado desse imóvel... Preço que despencou. Um empréstimo foi feito baseado num imóvel avaliado em 500.000 dólares e de repente passou a valer 300.000 dólares e mesmo pelos 300.000 não havia compradores.

Os preços dos imóveis eram uma bolha, um ciclo que não se sustentava, como os esquemas de pirâmide, especulação pura. A inadimplência dos milhões de Johns atingiu fortemente os bancos americanos que perderam centenas de bilhões de dólares. A farra do crédito fácil um dia acaba. Acabou.

Com a inadimplência dos milhões de Johns, os bancos pararam de emprestar por medo de não receber. Os Johns pararam de consumir porque não tinham crédito. Mesmo quem não devia dinheiro não conseguia crédito nos bancos e quem tinha crédito não queria dinheiro emprestado.

O medo de perder o emprego fez a economia travar. Recessão é sentimento, é medo. Mesmo quem pode, pára de consumir. O FED começou a trabalhar de forma árdua, reduzindo fortemente as taxas de juros e as taxas de empréstimo interbancários. O FED também começou a injetar bilhões de dólares no mercado, provendo liquidez. O governo Bush lançou um plano de ajuda à economia sob forma de devolução de parte do imposto de renda pago, visando incrementar o consumo, porém essas ações levam meses para surtir efeitos práticos. Essas ações foram corretas e, até agora não é possível afirmar que os EUA estão tecnicamente em recessão.

O FED trabalhava. O mercado ficava atento e as famílias esperançosas. Até que na semana passada o impensável aconteceu. O pior pesadelo para uma economia aconteceu: a crise bancária, correntistas correndo para sacar suas economias, boataria geral, pânico. Um dos grandes bancos da América, o Bear Stearns, amanheceu, na segunda feira última, quebrado, insolvente.

No domingo o FED, de forma inédita, fez um empréstimo ao Bear, apoiado pelo JP Morgan Chase, para que o banco não quebrasse. Depois disso o Bear foi vendido para o JP Morgan por dois dólares por ação. Há um ano elas valiam 160 dólares. Durante esta semana dezenas de boatos voltaram a acontecer sobre quebra de bancos. A bola da vez seria o Lehman Brothers, um bancão. O mercado e as pessoas seguem sem saber o que nos espera na próxima segunda-feira.

O que começou com o John hoje afeta o mundo inteiro. A coisa pode estar apenas começando. Só o tempo dirá.

O mesmo se aplica a realidade brasileira, com a diferença que um rombo por aqui não atinge o mundo inteiro...

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Ética contra a corrupção

Moacir Jorge Rauber
- “Olha, acredito que o preço deste DVD até possa baixar em função da queda mundial do dólar, mas neste momento é o melhor preço pelo melhor produto. Você deve saber que agora é a melhor escolha...”
E blá, blá, blá o professor de Ética da faculdade continuava seu discurso na sala dos professores ou nos corredores da instituição com os acadêmicos. Ele podia discorrer com enorme facilidade sobre as variantes de diferentes produtos eletrônicos, como DVDs, câmeras fotográficas, filmadoras, celulares, entre outros fazendo uma relação tecnologia, custo e benefício digno de um economista. Realmente impressionava a habilidade com que ele oferecia, argumentava e fechava o negócio, para em seguida vibrar demonstrando uma alegria genuína refletidos no brilho de seus olhos. Uma atividade extra para complementar a renda é uma atitude louvável, não fosse ele professor de ética numa faculdade que prepara futuros administradores de empresas privadas e também de órgãos públicos deste nosso país. Embora o fato de vender em si também não seria nenhum problema, caso o professor de ética tivesse uma empresa devidamente registrada para vender os seus produtos. E o mais incrível dessa história é o fato de ele ensinar ética concorrencial e vender produtos que entravam ilegalmente no país através da fronteira Brasil/Paraguai. Grande parte dos produtos são falsificados e sobre cem por cento deles os impostos não são pagos.
Lembrei-me deste fato quando li uma matéria jornalística que diz que a corrupção no Brasil é endêmica, segundo os resultados de uma pesquisa. Não é necessária uma pesquisa para detectar isto, basta observar o comportamento das pessoas nas ruas das cidades brasileiras. Quem carrega uma bolsa anda a ela agarrado como se fosse sua tábua de salvação, mas o motivo é que se não for assim alguém a leva. Quem tem uma bicicleta leva três cadeados, um para cada roda e mais um para o quadro. Ainda assim, muitas vezes, levam o assento. São exemplos simples, mas reais que podem ser vistos diariamente de norte a sul do Brasil. Segundo essa mesma reportagem seria necessário que a questão da corrupção devesse ser discutida nas salas de aula, desde o ensino fundamental, para que as crianças tivessem noção da gravidade da situação. Concordo que esse é um caminho. Logicamente que assunto não faltaria, porque teríamos todos os políticos para acusar de corruptos; teríamos as grandes empreiteiras para incriminar alegando que normalmente elas superfaturam uma obra em quase 20%; teríamos a elite dominante para culpar das mazelas da nossa sociedade; e assim não faltariam exemplos práticos de temas a serem debatidos. Mas também me pergunto, quem educará os educadores? Basta lembrar da história do professor de ética ou mesmo observar os professores da rede pública do ensino fundamental e médio para saber que são poucos os que poderiam ensinar sobre moral e ética, debatendo o problema da corrupção brasileira em sala de aula. Com que autoridade a grande maioria dos professores poderia debater estes temas, sabendo que é prática comum uma aula de cinqüenta minutos sofrer uma perda de dez minutos? Isso normalmente acontece pelo atraso do professor ou pela liberação antecipada dos alunos, mas representa os mesmos vinte por cento excedentes ou roubados pelas empreiteiras. Com o agravante que esses dez minutos perdidos por cada professor devem ser multiplicados pelos dez minutos de cada um dos alunos, de cada uma das salas de aula do país de quem esse tempo foi roubado. Tem-se aí um rombo fenomenal, digno de empreiteiras, políticos e da elite em termos financeiros, mas principalmente uma perda de valor inestimável na formação dos cidadãos brasileiros, que vão se acostumando com os maus exemplos desde cedo.

Por fim, fica a questão, quem vai ensinar ética ao professor de ética?

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Um país de "espertos"...

Moacir Jorge Rauber

O Brasil sempre foi um país de “espertos”. É uma questão de orgulho nacional parecer esperto, vender a imagem de que “se deu bem”. Assim, em detrimento de costumes e tradições que defendiam valores éticos e morais, sobrepuseram-se hábitos vinculados a esperteza, a safadeza, mas com a característica da malemolência brasileira. Aquela ginga em que além de ser “esperto”, de levar vantagem, é importante parecer “esperto”.

Por isso, num país onde a população “esperta” se acha no direito de saquear qualquer carga transportada por caminhões que tombe numa rodovia federal após um acidente, inclusive na presença de Policiais Rodoviários Federais, “otário” é aquela pessoa que tenta proteger o patrimônio de terceiros.

Num país onde os moradores “espertos” de um bairro arrancam, depredam e levam uma construção inteira, após a aquisição do imóvel pela prefeitura, “otário” é aquele cidadão que não aproveita a oportunidade para levar para casa alguns tijolos, algumas madeiras ou senão alumínio para depois revender.

Num país onde os motoristas “espertos”, desrespeitam os sinais de trânsito, como semáforos e faixa de pedestre, nas cidades, e as faixas contínuas e os limites de velocidade, nas rodovias, ultrapassando pela contramão, usando o acostamento como pista, “otário” é aquele motorista que segue os procedimentos de segurança indicados pela legislação de trânsito.

Num país onde ao se encontrar uma carteira com documentos de terceiros que tenha dinheiro, até se devolve aos seus donos, mas as pessoas “espertas” que a encontraram se acham no direito de ficar com ele ou de pedir uma compensação aproveitando-se da situação, é “otário” aquele que não tira nenhuma vantagem, tão somente devolvendo o objeto.

Num país onde para estacionar em lugar público gratuito, você é coagido a pagar para alguns elementos da população “esperta” que se apossaram da área, “otários” são as pessoas que se recusam a pagar e depois tem seu veículo danificado.

Num país onde as pessoas “espertas” criticam a falta de limpeza, mas jogam lixo pela janela do apartamento, do carro ou do ônibus, “otários” são aqueles que cuidam do seu lixo.

Num país onde as casas devem ficar trancadas, os apartamentos parecem fortalezas, com vigias, seguranças, câmeras de vídeo e acompanhamento 24 horas, porque senão os “espertos” de plantão levam tudo de todos, “otários” são aqueles não tomam tais precauções.

Num país onde quem simplesmente encostar a bicicleta para comprar um pacote de açúcar no mercado, sem cadeá-la em alguma estrutura fixa é “otário”, porque um integrante da população “esperta”, que está “ligado”, a leva sem escrúpulos em questão de segundos.

Num país onde professores universitários “espertos” fazem um acerto para repor perdas salariais temporárias com prazo determinado para acabar, aproveitam-se das distrações dos mantenedores para incorporar tais benefícios de forma permanente aos seus salários, “otários” são os professores que não concordam com essa posição.

Num país onde funcionários públicos, com jornada semanal de quarenta horas, chegam atrasados, saem sem justificativa para resolver assuntos pessoais e, muitas vezes, atendem mal aos contribuintes, são “espertos”, enquanto os que realmente cumprem com as funções e obrigações para as quais foram contratados são os “otários”.

Num país onde se cria uma comunidade virtual de entretenimento, mas que serve de fonte de informações para que “espertos” usuários as usem para planejar e executar roubos, furtos e assaltos, são “otários” os usuários que somente a usam para se divertir.
Num país formado por tantos “espertos”, a sua representação política somente poderia ser formada por “espertos” deputados, senadores, ministros e até por um “esperto” presidente que nunca sabe de nada. Isto porque o que realmente incomoda boa parte dessa população “esperta” não são os crimes de desvio de verbas públicas, mensalões entre outros, cometidos pelos “espertos” representantes do povo, mas o fato de eles serem “otários” por não terem conseguido chegar lá.
Por fim, num país onde predomina o pensamento de ser “esperto”, valorizando a malemolência e a ginga do safado gente boa, somente poderia ser transformado num país de “otários”!

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Pato ou Cientista

Moacir Jorge Rauber

Numa conversa com um amigo ele expressou toda sua simpatia e admiração pela competência do Presidente do Brasil. Fiquei um pouco pasmado, mas deixei-o continuar falando, porque normalmente não discordo de ninguém em aspectos políticos ou religiosos. Entre seus comentários a impressão notadamente positiva sobre o desempenho do Presidente em seus mais variados, para mim desvairados, discursos o impressionava, porque apesar do pouco estudo “ele falava muito bem e fazia bonito diante das diferentes platéias”. Fiquei completamente indignado, principalmente ao perceber que o pensamento deste meu amigo representa a posição de quase 70% dos brasileiros. Nós não elegemos um presidente para “fazer bonito”, assim como ninguém contrata um encanador para falar bonito, porque quando alguém é contratado o é para desempenhar sua função com respeito e dignidade. O encanador deve conhecer de canos, mas caso saiba falar de música e poesia melhor. Assim como o presidente deve conhecer de relações internacionais, de comércio exterior, de soberania nacional, de respeito a constituição entre outras qualidades, mas caso tenha uma boa retórica melhor ainda. Nenhuma democracia precisa de um presidente que ignore tais assuntos, sob o risco de incorrer numa falha de caráter e de competência que avance sobre os direitos individuais dos cidadãos a quem ele representa.

Logicamente essas variantes não foram abordadas em nossa conversa, mas diferentemente de todas as outras vezes em que nos encontramos, nas quais não manifestei abertamente meu pensamento, desta feita lhe retruquei: “Não, acho que ele não faz bonito e não faz nada direito. Para mim ele é um pato com lábia.” A surpresa ficou estampada no rosto do meu amigo. Havia me lembrado de uma metáfora muito conhecida que fala das habilidades do pato. Alguns bichos estavam reunidos na floresta, entre eles um pássaro, um peixe, um coelho e um pato. Conversavam sobre suas habilidades e modos de lidar com as adversidades da vida. Sobre a possível aproximação de um caçador, disse o pássaro:
- Ah! se um caçador aparecer eu saio voando como um foguete, com toda minha força e energia...
O peixe, por sua vez, comentou sobre o assunto:
- Se aparecer um caçador, eu nado como nunca, com toda minha destreza e velocidade...
O coelho ponderou:
- No meu caso, se um caçador aparecer eu digo: "Pernas pra-que-te-quero" e corro como uma bala.
Demonstrando certo ar de superioridade, por causa da aparente limitação de seus companheiros, o pato deu um passo à frente e declarou:
- Se vier um caçador, eu não terei problemas em me safar, pois, além de voar, sei nadar e correr. Farei qualquer uma dessas coisas, pois tenho várias habilidades, usarei a que for mais conveniente.
A conversa seguia seu rumo quando, de repente, surgiu um caçador na floresta. Sem demoras o pássaro alçou vôo. O peixe nadou rapidamente para o fundo do rio e o coelho saiu em disparada. O pato, porém, foi apanhado. Com tantas habilidades, não conseguiu definir a tempo a melhor estratégia de fuga.
Da mesma forma o nosso (infelizmente é meu também) Presidente tem habilidades inegáveis, mas nenhuma delas foi desenvolvida ou aperfeiçoada satisfatoriamente. A sua retórica é fruto de uma aptidão natural, mas falta-lhe conhecimento para embasá-la. As suas metáforas encantam, mas são superficiais e levam ao engodo da simplificação de situações complexas. O linguajar é acessível, mas pobre, refletindo levianamente questões muito mais intrincadas do que as por elas expressas. Por fim, a falta de percepção sobre temas globais impossibilita seu entendimento de questões que afetam o quotidiano das pessoas a quem ele agrada com um discurso fácil e irresponsável. Deste modo, a diferença do pato da metáfora com o nosso presidente é que aquele não conseguiu se safar com uma boa conversa, enquanto este leva todo mundo no bico, falando uma asneira depois da outra, para um público que, como ele, tem grande deficiência de compreensão de assuntos que estejam interligados. Por fim, esta situação me fez lembrar de uma frase de Ruy Barbosa que diz, “Há tantos homens burros mandando em homens inteligentes que acredito que a burrice é uma ciência.” Talvez nosso Presidente não seja um pato, mas sim um... um cientista.

sábado, 6 de setembro de 2008

Flanelinhas, mais uma exportação brasileira

Moacir Jorge Rauber

Apesar dos baixos índices de novos registros de idéias constatadas junto a Organização Mundial de Propriedade Intelectual, tecnologias brasileiras são exportadas e estão presentes no cotidiano de nações desenvolvidas. O Brasil tem grandes pesquisadores no setor de biotecnologia e um grande potencial científico em diferentes áreas, mas tem se destacado na alteração de valores e costumes sociais. O modelo surgido no Rio de Janeiro de dominação das favelas por partes de organizações criminosas tem sido bem sucedido em outros países. A ousadia em assaltos e seqüestros também tem sido levada pelos brasileiros ou aprendida pelos estrangeiros que visitam o Brasil. Mas o destaque é sobre a capacidade brasileira de levar vantagem em tudo, que é presença constante em qualquer país para onde os imigrantes brasileiros se desloquem. Essa prática fica muito evidente em Portugal com a presença dos “Flanelinhas” em praticamente todos os estacionamentos públicos das maiores cidades portuguesas, que leva a inconfundível marca brasileira.

Cidades portuguesas que há vinte anos eram completamente pacatas, em que as pessoas deixavam as portas de suas residências sem chaveá-las ao sair de casa; em que estacionavam seus carros tranquilamente sem se preocupar em trancá-los; em que os caixas eletrônicos ficavam expostos ao público sem qualquer tipo de segurança; em que os condomínios residenciais não precisavam ter orçamento para segurança; em que os proprietários de bancas de jornais expunham seus produtos com os preços e muitas vezes se retiravam do local; têm tido seus costumes dramaticamente alterados pela presença cada vez mais constante de, principalmente, brasileiros. Uma banca sem banqueiro pode ser levada por inteiro; um condomínio sem porteiro não terá nenhuma residência com dinheiro; um caixa eletrônico sem segurança é uma destemperança; uma casa aberta ou um carro sem trancas o proprietário é pateta, tendo seu bem o mesmo destino da banca. A tecnologia brasileira desenvolvida por anos de práticas de roubos, extorsões, assaltos, formação de quadrilha entre outras tantas, foi rapidamente incorporada por muitos portugueses. A presença dos doutores pesquisadores e conhecedores destes assuntos é grande. Em boa parte dos assaltos há a presença de um brasileiro. Nas extorsões por meio de seqüestros ou outras artimanhas é comum ter a participação de um pesquisador nato, provavelmente porque são respeitadores e seguidores da Lei de Gerson, em que levar vantagem em tudo é uma obrigação. Por fim, uma das tecnologias brasileiras com melhor aceitação no mercado português é a presença extorsiva dos “Flanelinhas” em quase todas as cidades portuguesas. Há alguns anos, segundo comentários, quando da introdução dessa tecnologia em Portugal a presença de brasileiros nesta tarefa era praticamente de 100%. Atualmente o mercado já está dividido. Muitos “Flanelinhas” portugueses ocuparam espaços deixados por brasileiros que migraram para outros países ou criaram seus próprios nichos de mercado. Ao se estacionar em local público logo aparece um sujeito “ajudando” a manobrar o carro. Alguns simpáticos outros intimidantes, mas os condutores têm a certeza de que se não deixar o pagamento o seu carro será danificado. Interessante é que a prática foi melhorada. Em muitas cidades brasileiras os “Flanelinhas” são remunerados no retorno do proprietário ao seu veículo, antes de se retirar do local. Aqui não. O pagamento é antecipado, no ato de estacionar.
Por fim, a exportação brasileira de práticas abusivas e da alteração de bons costumes tem tido um êxito tremendo em Portugal, bem como em outros países, porque muitos brasileiros não podem ver uma situação natural de respeito ao bem alheio, sem pensar em levar vantagem. Ah se todas as leis brasileiras fossem respeitadas como a lei de Gerson, certamente nós seríamos um povo bem sucedido, provavelmente exportando mais tecnologias construtivas e não tantas práticas extorsivas.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Falta de noção na cobertura de uma Olimpíada

Moacir Jorge Rauber
Ao ler manchetes e notícias sobre as olimpíadas em Pequim fico impressionado com a falta de noção, com a irresponsabilidade e, principalmente, com a crueldade nas palavras de boa parte dos autores das matérias. É comum ler manchetes que dizem “Fulano frustra o Brasil ao chegar em quarto”; “Beltrana derruba o sonho brasileiro de uma medalha na modalidade ...” ou “Cicrano teve uma participação pífia...” e por aí seguem palavras que são verdadeiros insultos aos atletas que estão em Pequim.
Considero falta de noção porque, muito provavelmente, boa parte dos autores das matérias conhece pouco ou sequer conhece o esporte sobre o qual escreve. É falta de noção, ainda, porque muito dificilmente algum destes autores tenha sido, é ou será atleta de qualquer esporte de alto rendimento, não tendo idéia do esforço que é necessário para se chegar no nível de participar de uma olimpíada. Também é irresponsável porque ao conhecer pouco um determinado esporte não poderia emitir opiniões tão contundentes. E caso conheça bem o esporte sobre o qual escreve uma manchete deste estilo é muito mais irresponsável ainda, pois assim sendo jamais deveria se expressar desta maneira. Por fim, a crueldade destas manchetes vai além de uma ofensa pessoal, porque expõe o atleta à opinião pública como se ele fosse o vilão. Na verdade não há sonho brasileiro em conseguir uma medalha, pois o sonho é de quem o sonha, neste caso os próprios atletas. Por isso não há necessidade de um “enviado” qualquer dizer que “Fulano”, “Beltrana” ou “Cicrano” não tenha conseguido o que ele se propôs a fazer, como se fosse o Brasil a não consegui-lo. Isto porque quem se dedicou, quem repetiu uma rotinas intermináveis de treinamentos, que abdicou de estudos, trabalho e família foi o atleta, porque não há esporte de alto rendimento sem comprometimento, sem perda e sem sofrimento. Com toda a certeza do mundo se os resultados não são aqueles que o “Brasil” espera é, provavelmente, porque o país não fez a sua parte ao não oferecer as mesmas condições de treinamento e incentivo que são dados nos países que mais sobem ao pódio. Por esse motivo não há pessoa com moral para cobrar nada em nome de ninguém, muito menos do país.

Por fim, é uma completa falta de noção, uma irresponsabilidade total e crueldade desumana, porque se um atleta chegou a Pequim ele no mínimo está entre os melhores do mundo.Para lá chegar teve que treinar e competir muito, ou seja, quem lá está é muito melhor do que os milhões que sequer tentaram.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Perdemos até para as galinhas...

Moacir Jorge Rauber

Quem conhece um sítio ou regiões do interior, sabe que os pequenos agricultores criam suas galinhas soltas pelo quintal. Normalmente elas andam em bandos se deslocando num raio de até quinhentos metros do seu galinheiro, com o qual elas têm uma ligação muito forte. Muitos sítios ficam próximos a estradas e a rodovias o que faz com que elas cruzem para o lado contrário de onde fica localizado o seu galinheiro. Podem estar elas ciscando tranquilamente, sem nenhum tipo de perigo, mas ao perceber a aproximação de um veículo o instinto lhes desperta uma angústia e uma necessidade de voltar para casa, o seu galinheiro. A galinha, esse animal bípede, tem pouca ou quase nenhuma inteligência considerado irracional, que sobrevive basicamente de seus instintos. Como a inteligência é pouca e a noção espacial em relação com a velocidade de aproximação do veículo é inexistente, muitas das galinhas morrem ao tentar retornar para casa. Este fato acontece mesmo que naquela rodovia, onde a galinha está a beira ciscando, passe tão somente um veículo por dia. A galinha poderia simplesmente deixar o carro passar e voltar para casa depois. Mas ela não tem discernimento para isso.

Esta mesma situação pode ser registrada diariamente nas pequenas, médias e grandes cidades brasileiras, no comportamento de outro animal bípede, o homem. Embora, diferentemente da galinha, o homem é um animal racional, sobrevivendo em função da sua racionalidade, com muito menos influência dos seus instintos. Mas em determinadas situações, provavelmente, o instinto lhes desperta essa mesma angústia e a necessidade de alcançar certo desejo naquele exato momento, não importando as conseqüências do ato. Tome-se como primeiro exemplo a aproximação de um motorista a um semáforo. Ele se encontra a trinta metros de distância, o sinal fica amarelo. O normal seria que ele freasse o carro, esperasse três minutos e passasse tranquilamente no próximo sinal verde. Mas o que acontece é que ele, instintivamente, acelera e passa como se aquela fosse a última chance, a última vez que semáforo fosse lhe dar a oportunidade de seguir em frente, gerando, em muitos casos, acidentes de atropelamento, batidas e outros tumultos. Tal e qual uma galinha. Outro exemplo que se pode citar, que reflete um comportamento muito semelhante ao de uma galinha, é com relação ao pedestre que vai cruzar num ponto onde não há faixa adequada. Ele pára, olha para os lados e vê a aproximação de um veículo. Acredita-se que deva pensar consigo mesmo “Ainda dá tempo!” e se atira para o outro lado. Muitos deles ficam estatelados nos pára-choques dos veículos, como as galinhas, sem conseguir cruzar a rua. O pior disso é que poderiam ter deixado o carro cruzar, aguardar alguns segundos ou minutos, realizando a travessia com toda a segurança. Esse mesmo comportamento pode ser observado na porta dos elevadores. A porta já está fechando, o elevador está praticamente lotado, mas um instinto maior do que a razão faz com que a pessoa meta a mão na fresta que ainda resta para que as portas se fechem totalmente, no ímpeto de não perdê-lo. Isto tudo como se o elevador não fosse fazer esse mesmo percurso tantas vezes quantas forem dados os respectivos comandos. Mais uma vez estão lá “as galinhas” com suas mãos presas na fresta de elevadores, que muitas vezes estão com os sensores pouco sensíveis, provocando lesões nos usuários. E o que dizer então quando duas “galinhas” enxergam uma vaga livre num estacionamento quase lotado? Caso estejam numa distância parecida e a percebem quase simultaneamente, surge um desespero em ambos, que disparam a toda velocidade em direção àquela vaga como se jamais fosse possível encontrar outro lugar para se estacionar. Essa situação chega a provocar brigas e confusões dignas de uma rinha de galos. E assim, poder-se-ia citar outros exemplos do comportamento humano parecido com o comportamento das galinhas, onde há pouco ou quase nenhum discernimento.
Após essas simples ponderações sobre a semelhança entre os comportamentos dos homens e das galinhas, devem-se fazer algumas observações. As galinhas têm o seu comportamento ditado pura e simplesmente pelo instinto, pois elas não são dotadas de inteligência, não foram a escola, não tem leis escritas e nem aulas de boas maneiras. Deste modo exibem esse comportamento como resultado do seu instinto, principalmente o da preservação, não esperando obter vantagem sobre suas iguais. Enquanto isso os homens exibem este comportamento racionalmente, pois são dotados de inteligência, educação, bons modos, vivência em sociedade organizada por meio de leis e padrões de boa conduta. Mesmo assim, em determinados momentos, exibem comportamentos puramente instintivos, com o agravante de que o fazem, racionalmente, para obter vantagem sobre seus pares. Portanto, em termos de comportamento perdemos até para as galinhas.

domingo, 3 de agosto de 2008

Mensagens nas entrelinhas

Moacir Jorge Rauber

Por que escrevemos, falamos e lemos tanto nas entrelinhas? Seriam as entrelinhas a expressão do desejo de quem recebe a mensagem, que, ao não encontrar o conteúdo procurado explicitamente, busca algo imaginado por ele? Também seriam as entrelinhas, quando emitimos a mensagem, uma ferramenta para acobertar nossa falta de coragem ou falta de capacidade para expressar o que deveria ser expressado? Essas perguntas são feitas porque vivemos num país onde temos total liberdade de expressão, que nos garante o direito de usar palavras por inteiro, não sendo necessário emprego da artimanha das meias palavras. Sabemos que todo processo de comunicação tem um emissor, um receptor, um canal e uma mensagem a ser transmitida. Canal de comunicação é por onde a mensagem é transmitida, como TV, rádio, jornal, revista, cordas vocais, ar, entre outros utilizados pelo homem. A mensagem é o conjunto de informações a ser transmitida, utilizando-se de códigos, como palavras, gestos, desenhos, sinais de trânsito, etc., que consigam expressar a respectiva mensagem. Também exerce grande influência sobre as mensagens que são transmitidas, com relação a sua forma e conteúdo, bem como o canal a ser utilizado, o meio onde o emissor se encontra. Portanto, o mais natural seria que nos comunicássemos de forma clara, objetiva e direta o que se pretende transmitir, utilizando os recursos mais adequados para o meio onde nos encontramos, produzindo maior entendimento e minimizando o risco de problemas decorrentes desse processo. Mas mesmo assim, as entrelinhas são constantes em nosso processo de comunicação.

Considerem-se entrelinhas como o significado encontrado na interpretação de uma mensagem que não esteja explícito, que necessite de uma dedução mental para alcançá-lo. O sentido nas entrelinhas, pode levar a ilação, muitas vezes errônea, da verdadeira mensagem a ser comunicada. As entrelinhas também podem se revelar por meio de mensagens subliminares. Mas, de qualquer forma, o uso de diferentes significados nas entrelinhas no processo de comunicação é uma ferramenta importante na vida daqueles que, por um motivo ou outro, não querem explicitar exatamente o conteúdo a que se propuseram comunicar. Trata-se de um recurso de retórica, de estilo, enfim de uma ferramenta de comunicação que exige um maior grau de intelectualidade das partes envolvidas ou, pelo menos, de grande contextualização com relação aos recursos usados na transmissão da mensagem. Para o bem ou para o mal.

Justificadamente usa-se o sentido nas entrelinhas para manter o encanto e a magia, levando a sedução aos românticos e apaixonados. Usa-se o sentido nas entrelinhas nas poesias que comunicam muito além das palavras literalmente escritas. Usa-se o sentido nas entrelinhas na tela do artista, que neste recurso encontra uma forma de ampliar a grandeza de sua obra. Usa-se o sentido nas entrelinhas para provocar a reflexão sobre determinados assuntos, para despertar a curiosidade, fazendo com que a pessoa a quem se destina a mensagem construa seu próprio conhecimento, como na relação do professor com seu aluno. Usa-se o sentido nas entrelinhas para criticar um sistema, um regime ou uma ideologia que não permite ser admoestada ou censurada, sendo uma ferramenta importante na mão de críticos, jornalistas, escritores, entre outros formadores de opinião em países onde a liberdade é sistematicamente cerceada. Em nenhum destes processos de comunicação o sentido nas entrelinhas das mensagens denota falta de capacidade ou oculta intenções obscuras. Em todos eles o sentido nas entrelinhas presentes nas mensagens destaca o belo, o bonito, o bom e a boa intenção, seja explícita ou implicitamente, ressaltando a capacidade do ser humano de criar, de imaginar e de instigar novas interpretações para uma mesma mensagem, independentemente do modo como ela foi transmitida.

Por outro lado, o sentido nas entrelinhas também é utilizado por quem não deveria. Muitos diretores, gerentes e colaboradores nas empresas pecam ao não comunicar com sua mensagem tão somente o que ela tem a dizer. A mensagem deve ser clara, objetiva e direta, tendo um emissor e um receptor identificados, utilizando um canal que atenda as duas partes. Peter Drucker, guru da administração moderna, afirmava que 60% dos problemas das organizações empresariais se referiam as falhas de comunicação, causadas pela falta de clareza, agigantando problemas e criando confusões pelo sentido dúbio das mensagens, ou seja, pelo uso de sentido nas suas entrelinhas. Para os casais, quando se trata de enaltecer o belo, estimular o romantismo é perfeitamente compreensível o uso de sentido nas entrelinhas, embora não haja necessidade de seu uso para as comunicações práticas no dia a dia. Dizer o que deve ser dito com educação e respeito nos acertos da vida pessoal, certamente garantirá um relacionamento mais tranqüilo e duradouro. Pode-se destacar também o uso inadequado de sentido nas entrelinhas das mensagens nas religiões, que usam e abusam da linguagem figurada para explicar o que não tem explicação, mantendo a dependência dos seus seguidores sem questionamentos mais contundentes.

Por fim, dois outros exemplos de uso inadequado de sentido nas entrelinhas das mensagens, carregam consigo a má intenção, o desejo de ocultar o real significado da comunicação. O primeiro exemplo é dos criminosos, que usam determinados códigos e palavras com sentido trocado para realizar sua comunicação, impedindo que pessoas estranhas ao processo captem o conteúdo da mensagem. Os criminosos usam variadas e diferentes expressões para associá-las a mensagens completamente desconectadas de seu sentido original, como “saidinha de banco”, largamente usada pelos criminosos quando atacam as vítimas na porta do banco; “verme”, para identificar os policiais, e “salve”, que significa ordem. Em grande parte das comunicações entre criminosos, portanto, são encontrados sentidos nas entrelinhas das mensagens, com o objetivo claro de ocultar a verdadeira informação nelas contidas. O segundo exemplo de uso inadequado de sentido nas entrelinhas que traz consigo a má intenção, é a política. É prática comum no meio político brasileiro o uso da meias palavras, o uso de metáforas e o uso de expressões que não transmitem o verdadeiro sentido da junção das palavras que as formam. É freqüente, na retórica dos políticos profissionais brasileiros, a intenção de mascarar o verdadeiro sentido de suas mensagens para não precisar explicar o que deveriam fazer no uso de suas atribuições. A comunicação entre políticos e a população deveria ser clara e eficaz, pois não há sentido do uso de “meias palavras” se estamos numa democracia e temos a possibilidade de dizê-las, escrevê-las, enfim, de comunicá-las por inteiro.

Portanto, na política o uso de mensagens nas entrelinhas somente justifica a presença de políticos matreiros e desonestos, porque vivemos numa democracia que nos permite dizer o que deve e quando deve ser dito. Sabemos também, que no meio político, em muitas situações, sequer há sentido nas linhas, muito menos nas entrelinhas, porque falam o que não sabem sobre o que não conhecem para quem não olham, que é o povo. Oxalá alcancemos o dia em que as mensagens somente tragam sentido nas entrelinhas para ressaltar o belo, a emoção, a boa intenção, destacando a capacidade humana de ampliar o mundo por meio da imaginação e do mistério. Einstein dizia que "a mais bela emoção é o mistério. Se o homem soubesse de tudo, sua vida perderia a graça, pois a beleza está na curiosidade, no estudo, na pesquisa, na hipótese, na sensação de que sempre falta alguma coisa a saber." Mas sempre para o bem.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Oxigênio para Portugal

Moacir Jorge Rauber

Uma parcela dos portugueses tem um sentimento de baixa auto-estima muito elevado. Muitas vezes há uma reação estranha quando comento o fato de ter escolhido Portugal para estudar nestes próximos anos, ao que me dizem “mas por que aqui, porque não foi para a Espanha, Alemanha ou outro país?”, denotando uma menos valia acentuada. Esse sentimento também se identifica em reações comuns como, “mas isto é muito difícil...”, em que se manifesta uma espécie de preguiça, inibindo qualquer tipo de mudança. A rejeição ao diferente também expressa certo medo, resultado da baixa auto-estima. Neste caso a presença dos brasileiros, de forma tão intensa nos últimos anos, tem provocado em muitos portugueses uma antipatia que beira a animosidade. Como já dito, isto apenas reflete a postura de uma parcela da população, porque esta semana ouvi uma opinião diferente sobre a presença de estrangeiros em Portugal. Tive a oportunidade de conversar com o administrador de uma cidade que acredita ser positiva a vinda de estrangeiros a Portugal, porque esse movimento obriga aos portugueses a abandonar este estado letárgico, não havendo espaço para vítimas do mundo sob pena de ficarem para trás.

Comentava-me, o administrador, que com o afluxo de pessoas de diferentes países, com diferentes culturas e variados traços, a maneira de ser do povo português foi enriquecida, considerando que o país teve um salto evolutivo marcante nas últimas três décadas. Logicamente que essa visão se estende sobre as características positivas dos diferentes povos que para Portugal emigraram neste período, embora também tenha destacado uma série de problemas que dessa migração resultaram. Comentou que uma parcela de emigrantes vindos do leste europeu tem como pontos positivos a grande disposição ao trabalho, mas negativamente apresentam muitos traços isolacionistas, preservando de forma ferrenha o modo de viver do país de origem. Já os brasileiros trazem como pontos positivos o dinamismo, a vivacidade e a expansividade, o que tem oxigenado o modo de vida de parcela da população portuguesa. Por outro lado os brasileiros também apresentam características negativas, como pessoas com poucos escrúpulos buscando sempre levar vantagem em tudo. Por fim, concluiu o administrador, a presença de estrangeiros, principalmente dos brasileiros, tem mais aspectos positivos do que negativos para o país e seu desenvolvimento.
Concluindo, fica o alerta para o perigo das generalizações ao dizer que determinado povo é de um ou de outro modo. Pode-se dizer que algumas características de pessoas oriundas de determinado países, proporcionalmente, se sobressaem em comparação com pessoas oriundas de outros países. O que não se pode fazer é generalizar afirmando que todas as pessoas daquele país se comportam de uma maneira, sob pena de, nós brasileiros, nunca nos desvincularmos da imagem de sermos “espertos” e querer levar vantagem em tudo. Caso houvesse uma generalização para o povo brasileiro preferiria ser o “oxigênio”, que é marcado por características positivas.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Brasileiros fazem na Europa o que não fazem no Brasil

Moacir Jorge Rauber

Num texto anterior foi destacada a situação de muitos brasileiros que vieram a Portugal para trabalhar em profissões que no Brasil não se dignariam a fazê-lo. Essa situação se repete em muitos outros países da Europa, notadamente Alemanha, Suíça e Áustria. Da região do interior do Paraná, de onde sou oriundo, muitos rapazes saíram e continuam saindo com destino a esses países para também trabalhar em funções que na sua cidade consideravam pouco honradas. Saem do Brasil com contrato de trabalho pré-determinado, normalmente com prazo de um ano, para serem tratadores de porcos, recolhedores de estrume, ordenhadores de vacas, entre outros trabalhos que não fariam no Brasil de jeito nenhum. E no Brasil não o fariam porque seria “humilhante” perante seu círculo familiar e de amigos. Além da função a carga horária de trabalho diária supera a média de dez horas, com poucas folgas e possibilidades de interação com pessoas do país quase nulas. Isto porque há um forte sentimento xenofóbico nestes países, que os querem para fazer o serviço para o qual já não dispõe de mão-de-obra, mas sem vínculos.

Então por que tantos brasileiros se sujeitam a essas condições e continuam vindo para a Europa como abelhas atraídas pelo mel? Boa parte se explica simplesmente pela questão financeira. O trabalho é remunerado em euros, que na conversão para o real proporciona um bom rendimento. Mas também existem outros fatores que fomentam esse fluxo de pessoas, como o sentimento de estar na Europa, o status proporcionado por essa presença e a ausência da influência de parentes e amigos sobre o seu comportamento. Estar na Europa os enche de orgulho, proporcionando-lhes um prazer que não há dinheiro que compre. Mas se analisarmos o fato de que as pessoas simplesmente estão na Europa, mas não tem amigos, não tem liberdade para fruir o fato de aqui estarem, e, muitas vezes, não tem dignidade pela discriminação havida, então melhor seria ficar. Neste ponto volto a enfatizar que se esses brasileiros se dedicassem com o mesmo afinco e determinação que são obrigados a fazê-lo na Europa em oportunidades existentes no Brasil teriam o mesmo retorno, mas com a comodidade e o conforto de estarem em casa.

Por fim, executar trabalhos no Brasil, independentemente de sua natureza, produzirá resultados que no futuro permitirá que essas pessoas estejam na Europa e dela desfrutem, se assim o quiserem.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Brasileiros fazem em Portugal o que não fazem no Brasil

Moacir Jorge Rauber

Houve um tempo em que ser brasileiro em Portugal era sinônimo de alegria, de irreverência e de simpatia, diferentemente de hoje em que os adjetivos pelos quais somos designados, em sua maioria, sequer merecem ser citados. Mesmo assim é muito comum que se encontrem brasileiros em praticamente todas as cidades portuguesas, desde as maiores até as menores. Muitos deles com pouca qualificação profissional, trabalham em subempregos, cumprindo jornadas diárias de 12 a 14 horas, com baixos salários e condições de vida difíceis. Por fim, trabalham em funções que no Brasil a grande maioria não se dignaria a exercer.

Ouvi brasileiros estudantes dizerem em alto e bom som o quanto o nosso país é maravilhoso, enquanto Portugal é atrasado econômica e culturalmente, angariando a antipatia local. Vi outros brasileiros perambulando pela cidade a pedir esmolas, denegrindo a já combalida imagem brasileira. Ouvi falar do grande número de mulheres prostitutas, contribuindo para aumentar uma má fama instituída, mas completamente imerecida das brasileiras. Também vi aqueles que trabalham como lavadores de pratos em restaurantes, frentistas em postos de combustíveis, “flanelinhas” em estacionamentos e limpadores de banheiros, entre outros trabalhos, na sua grande maioria em situação ilegal no país. Dificilmente esses brasileiros conseguem auferir bons salários, porque somente conseguem uma vaga aceitando as condições de quem também desrespeita a lei. Sofrem assim, calados a discriminação. Essa discriminação, legalmente proibida, acontece a partir do momento que um brasileiro se expressa e o interlocutor português percebe a origem. Ela pode ser por meio de um olhar carregado, de um atendimento indelicado ou mesmo de forma mais ostensiva com recriminações.
Por isso me pergunto por que então continuam a vir tantos brasileiros para Portugal e mesmo a outros países europeus, onde a imagem do brasileiro tampouco é boa? Chegam sem um trabalho formal contratado, apenas com o sonho e a ilusão de se dar bem, enfrentando situações difíceis as quais não se obrigariam no Brasil. Quando conseguem trabalham em condições inaceitáveis nas empresas brasileiras, seja pela carga horária excessiva ou pela falta de garantias individuais e constitucionais. E pior, a faixa salarial para os ilegais, na esmagadora maioria dos casos, é muito baixa, girando por volta dos trezentos e cinqüenta euros. Um salário desses consegue-se no Brasil, com bem menos esforço e sacrifício, além da humilhação muitas vezes sofrida pelo simples fato de ser brasileiro. Deste modo, caso esses brasileiros trabalhassem no Brasil da mesma forma como são obrigados a trabalhar no exterior, certamente conseguiriam alcançar por lá o que buscam por aqui.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Poder, a estupidez estampada no rosto das pessoas

Moacir Jorge Rauber
Sempre que acompanho uma reportagem televisiva, vejo fotos em jornais e revistas captando os momentos “históricos” de uma organização, de uma vila, de uma cidade, de um estado ou de uma nação, vejo expresso estampada a estupidez que representa o poder para o ser humano nos rostos das pessoas que participam destes momentos. E a humanidade, por meio de suas instituições e de seus indivíduos, não se farta de produzir ocasiões históricas para atender a ânsia de poder das pessoas que ocupam posições de destaque, seja na esfera pública ou privada.

Tome-se como exemplo uma cerimônia de formatura de um curso superior, onde somos ensinados a continuar produzindo um modelo de momentos históricos. Cria-se um mundo fantasioso no entorno de uma formatura, o fim de um ciclo de indivíduos, jogando-se sobre eles a responsabilidade de continuarem a produzir momentos históricos em suas vidas e em suas profissões. Deste modo, esse modelo se replica nas inaugurações de pontes, de creches, de hospitais, de ginásios de esportes, de fábricas, enfim, em todos os eventos, envolvendo a iniciativa pública ou privada. Como resultado, diariamente presenciamos um sem número de “autoridades” conduzindo cerimônias, reproduzindo jargões como “Esse é um momento histórico na vida desta...”. Dizem-no como se realmente acreditassem nisto, como se o momento não fosse apenas de vanglória pessoal, com a pretensão de marcar a sua passagem pela instituição. Por fim, com muito mais ufania vemos o próprio presidente da república jactando-se em todos os lugares onde lhe passam a palavra ao repetir exaustivamente “Nunca antes na história deste país...”. Com tantos momentos históricos seria no mínimo exigível que a humanidade já estivesse num patamar mais elevado de convivência ambiental e justiça social.

Logicamente que esse comportamento não é prerrogativa daqueles que ocupam os cargos de poder, porque se trata de uma característica quase que inerente ao ser humano resultado de nosso modelo social. Quem já não foi levado a acreditar que participava ou mesmo que promovia um momento histórico? Quantos de nós não traz na lembrança a participação em alguma passeata, em algum movimento ou mesmo numa campanha política como se realmente tivesse sido algo de suma importância? Em muitos casos o foi, mas certamente foi muito mais importante para cada um individualmente nas suas memórias do que de resultados efetivamente alcançados. Caso você tenha alguma foto deste momento, auto avalie-se, veja a expressão de seu rosto e verá a satisfação produzida por esse momento fugaz de sensação de poder. Quem sabe com isso não conseguiríamos ter nosso nome imortalizado numa rua, numa praça? Mas de que vale essa imortalidade? De que vale para “o” Machado de Assis ter seu nome na Academia dos Imortais? Ele, como pessoa que se importa, que sente, que ama, que deseja, enfim, que almeja já morreu, não representando mais nada todas essas homenagens póstumas. Mais valem as nossas lembranças e memórias de uma vida digna baseada num comportamento ético, do que homenagens póstumas eternizadas num imaginário tributo ao poder.

Portanto, buscar a imortalidade em formas fugazes de prazer proporcionadas pela vã ilusão do poder se revela a ignorância do pretendente. Avalie Hugo Chavez, George W. Bush e outros mandatários, olhando as fotos, vendo as reportagens e perceba como está estampada nos seus olhos, no seu semblante a plena satisfação provocada pela sensação de poder presente naquele momento, representando toda a estupidez humana.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Como você está?

Moacir Jorge Rauber

“Como você está?” Uma pergunta tão fácil e direta, que deveria expressar a verdadeira preocupação de um colega, de um conhecido, dos amigos e familiares em saber como você se encontra. Esta pergunta deveria conter, pura e simplesmente, o que ela quer dizer, mas neste mundano mundo que vivemos as pessoas, ao lha dirigirem não querem saber se você está bem consigo mesmo e com os mais próximos. Querem saber muito mais do que “sobre o seu dia”. Essa pergunta vem carregada de duplo sentido, porque o que querem saber é o quanto você tem, o quanto você ganha, quais bens você conquistou nesse tempo em que não se viram e qual a posição social que ocupa no lugar onde vive. Caso você apareça com um carro novo já vão logo dizendo, “Você está bem, hein?” Mas quando o carro não seja tão bom a pergunta vem sublinhada de malícia, “Você está bem?”. E se por acaso vier de ônibus a pergunta muda completamente, porque lhe dirigem um “Mas o que foi que aconteceu?”. No fundo, para esta pergunta de saber “como você está”, a resposta certa seria dizer o quanto tem no bolso.

Essa confusão havida para uma simples pergunta que se faz repetidamente ao encontrarmos pessoas que não vemos há alguns dias, semanas, meses ou mesmo anos é resultado de uma deturpação de valores. Passou-se a valorizar mais uma pessoa de sucesso do que uma pessoa bem sucedida. Entenda-se por pessoa de sucesso aquela que alcança brilho, destaque e exposição naquilo que faz profissionalmente. Vemos cantores, compositores, empresários e profissionais das mais diferentes áreas alcançarem o sucesso, muitas vezes de forma meteórica. Mas também vemos ladrões, bandidos, criminosos, corruptores e corruptos que tem sucesso. Bem sucedido, por outro lado, é quem se sente bem com aquilo que faz ou deixa de fazer, mas principalmente com o que é. Isto porque o que a pessoa bem sucedida é, faz bem àqueles que o circundam. O sentimento sobre a dubiedade da pergunta tem sido despertado em mim ano após ano quando retorno para a minha cidade de origem e me perguntam, “Como vai você? Há quanto tempo que não o vejo!” Quando respondo “Muito bem!” e que tenho dedicado meu tempo para ser atleta a expressão de espanto não nega, mesmo porque na seqüência, muitas vezes, vem outra pergunta, “Mas o que você está ganhando com isso?” Neste momento só me resta responder, “Prazer!”.

Prazer esse obtido pelo fato de fazer o que sempre sonhei, sem ser arrastado pela roda viva a que o mundo nos tem imposto ultimamente. Não que isso seja um convite ao ostracismo, a falta de dedicação ou o incentivo a não qualificação profissional, muito pelo contrário, o esporte de alto rendimento me mostrou exatamente o oposto. Ele exigiu muito mais que preparação física e psicológica, cobrando-me dedicação constante, aprimoramento técnico e desempenho competitivo muito maior do que qualquer outra atividade profissional jamais exigiu. Porém, eu estava fazendo exatamente aquilo que queria no momento por mim escolhido, realizando um sonho acalentado por muitos anos. O sucesso, sem que as pessoas se sintam bem sucedidas, pode nos trazer dinheiro, destaque e prestígio social, mas por outro lado tem levado muitas pessoas ao fracasso em sua vida privada.

Deste modo, sempre que fizer esta pergunta a alguém com quem você realmente se importa, saiba que os seus valores podem ser diferentes. Por outro lado, sempre que lhe fizerem esta pergunta e você puder respondê-la de modo positivo, expressando o que sente e não o que os outros esperam, considere-se uma pessoa bem sucedida. Por isso pergunto, “Como você está?”

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Patenteando a vida...

Moacir Jorge Rauber

Direitos autorais, marcas e patentes é um assunto que muitos especialistas já discutiram, mas ele continua a me deixar indignado. Pagar direitos autorais, marcas e patentes é simplesmente revoltante, uma vez que as empresas, pessoas ou organizações que registram tais descobertas, somente as conseguiram pelo conhecimento acumulado em milhões de anos. A lógica deveria ser invertida. Toda vez que alguém descobrisse algo novo deveria contribuir para um fundo comum, porque o conhecimento acumulado permitiu que se alcançasse um novo estágio.

Podemos considerar que se alguém conseguiu compor uma música, isto não é apenas mérito dele. O mérito vem pelo acúmulo de pequenas descobertas da primitiva produção de sons, da criação de instrumentos, da organização do conhecimento musical de forma que ele possa ser criado, estudado, recriado, enfim, que ele esteja ao alcance daquele que tiver interesse. Quando alguém escreve um livro ou desenvolve uma nova teoria, de novo existe muito pouco, porque ela é resultado de toda a trajetória de construção do conhecimento humano. Acredito que essa lógica ocorre em todas as áreas, embora as normas vigentes trabalhem em sentido contrário, preservando e garantido lucros maiores àquele que registrou determinado “novo” conhecimento. Infelizmente é assim, mas acredito que se deveria lutar para que a lógica acima citada fosse implementada, fundamentalmente nas áreas que tratam da melhoria direta da qualidade de vida do ser humano, como as pesquisas na área da saúde.
Passa-se por um momento delicado em que se discutem questões morais e éticas do uso das células-tronco embrionárias para fins terapêuticos. Sequer há consenso sobre quando exatamente começa a vida, mas surge o verdadeiro problema por trás dessa questão de fundo, os interesses comerciais. Querem patentear o uso e a comercialização das células-tronco, conforme matéria da Veja online http://vejaonline.abril.com.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=1&pageCode=1&textCode=143421&date=currentDate. Esse, para mim, é um fato que realmente deveria deixar a todos indignados. O pesquisador americano James Thomson, pioneiro no cultivo das células, juntamente com a Wisconsin Alumni Research Foundation, detentora da patente nos Estados Unidos (por lá já patentearam) entrou com um pedido na União Européia também. Acredita-se que não será aceito tal pedido. É o mínimo que se espera, pois senão pode-se patentear a vida.
Ressalte-se que o citado pesquisador e a fundação que o apóia somente conseguiram chegar a descobrir os procedimentos de manipulação de células-tronco porque a humanidade vem organizando metodologicamente o conhecimento por milhares de anos. Ou seja, para se chegar a esse nível de conhecimento científico alguém teve que dominar a técnica do fogo (pagar royaltes para o homem das cavernas); outros tiveram que descobrir como se manipulam os metais (pagar royalties para o homem da era dos metais); mais alguns identificaram os elementos químicos e orgânicos (para quem pagar os royalties?), enfim, um sem número de pessoas e civilizações contribuíram com descobertas e com a organização do conhecimento humano, de forma a permitir que esse grupo chegasse a dominar a técnica dos procedimentos com as células-tronco. Pergunto, eles estão pagando royalties sobre toda esse conhecimento anterior acumulado que os permitiu chegar a essa nova técnica? Certamente não, então tampouco teriam o direito de cobrar sobre ela. Por isso a idéia de se destinar parte daquilo que se aufere com novas descobertas para um fundo comum, gerido pelas Nações Unidas por exemplo, impedindo que um grupo privado se beneficie de um conhecimento comum.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Chupar picolé e levar susto de carro

Moacir Jorge Rauber

Nasci e me criei na roça, com muito orgulho. Ser agricultor me dava prazer, mas não impedia de sempre ouvir umas tiradas dos amigos que moravam na cidade. Diziam eles que os agricultores somente iam à cidade para chupar picolé e levar susto de carro. Essa teoria se explica. Até final da década de setenta a maioria das residências dos colonos era desprovida de energia elétrica, e as pessoas tampouco possuíam carros. Mesmo aqueles que dispunham de tais luxos tinham em sua rotina poucos encontros com pessoas que não fossem do círculo familiar e não consumiam muitos dos produtos comuns para quem mora numa cidade, onde iam uma, ou no máximo duas vezes ao mês. Nestas idas à cidade encontravam mais novidades que os curiosos olhos podiam acompanhar, fazendo a cabeça girar frequentemente para poder admirar uma casa linda, um edifício enorme, pessoas bem vestidas e carros, muitos carros novos, velhos, bonitos e feios, uma imensidão de variedades. Assim, muitas vezes ao cruzar a rua os olhos se dirigiam ao lado contrário ao fluxo de veículos, que resultava em freqüentes quase atropelos e muitos sustos. Ao finalizar o dia de aventura na cidade, antes de retornar a sua casa, invariavelmente se comprava um sorvete ou um picolé, afinal, esse era um prazer de que não se podia usufruir na roça.

Esse sujeito que se admira com as novidades, com diferentes costumes, impressionando-se, espantando-se e apaixonando-se pela vida continua muito vivo em mim, apesar de já de ter deixado a roça há um bom tempo e circulado por muitos lugares exóticos deste nosso pequeno grande mundo. Lembrei-me dele com muita força logo que cheguei aqui em Braga – PT. Na minha primeira saída sozinho em minha cadeira de rodas pelas redondezas de minha residência fiquei zanzando, admirando a beleza do bairro, os jardins bem cuidados, as ruas bem sinalizadas, as pessoas caminhando em segurança, as calçadas em bom estado e com amplo espaço. Tanto espaço que não olhava por onde rodava e sim para os lados. A cabeça continuava girando, ansiando por ver coisas que não havia visto, novidades ou situações exóticas, resultado daquela curiosidade nunca completamente saciada oriunda lá da minha infância e adolescência agrícola. Às vezes eu ia bem devagarzinho, outras acelerava minha cadeira de rodas. Numa dessas aceleradas, com os olhos buscando algum detalhe antes não perscrutado, foi que as pequenas rodas dianteiras da cadeira se toparam com uma saliência na calçada. Foi um impacto e um tombo. A cadeira parou, mas eu deslizei para frente, estatelando-me no chão. Antes que eu a pudesse segurar ela correu para trás, distanciando-se uns cinco metros de mim. Lá estava eu, numa calçada da cidade de Braga em Portugal, sentado no chão sem alcançar a minha cadeira. Nisto vem uma mulher completamente distraída, mexendo em seu celular e quase tropeça em mim. Tive que alertá-la para não ser por ela atropelado, mas certamente seria melhor do que sê-lo por um carro.
Não foi susto de carro, nem um picolé para chupar, mas o resultado da curiosidade foi semelhante, porque a origem é uma FACETA que não se nega nunca.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

O ser humano em desequilíbrio.....

Ana Mari Doering Zamprogna

O ser humano parece des-humano - desumano - ou seja – perdeu a qualidade natural do humano – a sua humanidade – afetividade, coerência, capacidade de se relacionar, respeitar, amar, participar, sensibilizar-se, enfim, sua capacidade racional. Animalizou-se, voltou ao status indiferenciado dos outros animais - os ditos irracionais.
Essa capacidade humana, hoje, desumana, merece urgentemente uma reflexão/avaliação; uma explicação; e...uma decisão! É urgente!
Refletir e avaliar - além da indignação - pela história e momento atual - o que está acontecendo com o ser humano.
Formular, pelo menos, uma hipótese, uma pré-explicação para o resultado dessa avaliação; perceptível e de certa forma mensurável - para que se possa aquilatar sua extensão.
Decidir a respeito disso – se queremos continuar com a denominação de humanos e a suposta diferenciação dos outros animais – os irracionais.
Esse preâmbulo pretende colocar na pauta, na roda - a violência – como um fenômeno, um desequilíbrio, uma ocorrência que está acometendo o ser humano. De forma particular - a violência contra as crianças – dos adultos contra as crianças, de modo geral; da pedofilia, de modo especial.
É um desequilíbrio assustador - pelas proporções que se estão revelando, dia após dia.
Essa realidade revela, a princípio, o que já aconteceu com a mente dessas pessoas, principalmente dos homens (mas com a anuência de muitas mulheres).
Essas mentes não estão sãs. E estão adoecendo as mentes daqueles e daquelas que são submetido(a)s ao calvário dessa forma de abuso, tortura e degradação.
É humilhante, ao ser humano, ter descido tão baixo em seu juízo de valor – porque a ocorrência desse tipo de violência macula uma relação que deveria ser de amor, segurança e confiança. Essa violência parte de dentro das relações familiares, de convívio e amizade. Quando não, é uma relação mercadológica e animalesca, na acepção da palavra.
Da mesma forma que precisamos proteger todas as crianças, precisamos entender o que essa realidade nos apresenta. Precisamos encontrar meios de tratá-la – de tratar esses seres que já não são humanos, mas que também nasceram humanos.
Essas pessoas, esses seres que nasceram humanos, podem contribuir para a compreensão desse triste fenômeno. Podem nos levar ao entendimento, à compreensão, do que os levaram a tais extremos. Apenas prendê-los e deixá-los com sua desgraça e seu crime, de nada adianta. Isso não ensina e não pune. Mas o pior mesmo, é que não nos ajuda a proteger e cuidar de nossas crianças.
Para proteger nossas crianças, devemos apreender o que essa triste realidade nos mostra – para saber como enfrentá-la e como evitá-la, principalmente. Se não conhecemos suas origens, não podemos cortar-lhe as raízes.
Mas....será mesmo que não conhecemos as suas origens, as suas causas? Quem sabe tenhamos algumas pistas?
Que conceitos humanos adquire quem é condenado a viver de forma desumana, alijada de todos os valores, de se sentir pertencente a alguma coisa ou a algum lugar, a alguém? Que se sente desprotegido, descuidado e abandonado à própria sorte?
De outro lado, que valores adquire quem não convive com limites, não os respeita e não vislumbra qualquer impedimento às suas vontades primitivas e animalescas? Quem não apreende o sentido da vida - sua e dos outros - e, assim, não pauta sua existência em função de outras existências, mas as utiliza para sua odiosa decadência?
E o principal disso tudo é que precisamos tratar as crianças que sofreram abusos. Essas crianças merecem e podem passar a viver melhor, a confiar e a amar - a não se transformarem nos desumanos abusadores do futuro.
Na realidade, precisamos cuidar da espécie, da raça humana, para que continue humana! Neste planeta ou em qualquer outro. Neste mundo – neste nosso universo.

Chapecó/Brasil, 11 de Junho de 2008.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Brasil e EUA, onde está a diferença

Moacir Jorge Rauber

Com a visita do Presidente George W. Busch em março de 2007, as manifestações antiamericanas no país se proliferaram, surgiram e foram organizadas por diferentes grupos e organizações, e recebendo o apoio quase que indistintamente de toda população brasileira. Foram estudantes, donas de casa, empresários, funcionários públicos, professores, formadores de opinião, entre outros, todos criticando abertamente George W. Busch e os EUA, na sua relação com o mundo. Nas manifestações foram destacados o imperialismo americano, a falta de “humanidade” por parte daqueles que são considerados os malfeitores da terra, responsáveis por quase todas as guerras. Tais guerras, quando realizadas, são acusadas de injustas; quando não realizadas são criticadas pela omissão, pela falta de atitude. E as críticas atingem diferentes áreas. Os EUA são criticados por suas posições de protecionismo do próprio mercado e por outro lado são criticados pela exigência da abertura de nossos mercados às suas empresas. São criticados pela massificação cultural feita por meio de filmes e músicas; são criticados pela alteração dos costumes, com a introdução de diferentes hábitos alimentares, como os fast food; são criticados por direcionar a moda; são criticados pela mudança da conduta, do comportamento e de valores, sejam eles familiares ou sociais, sendo quase todos ligados ao excesso de consumo; são criticados porque suas empresas, as famigeradas multinacionais, são predadoras e remetem todo o lucro auferido nos países onde se instalam para a matriz nos EUA. São criticados, principalmente, por acreditar que o mundo se resume à sua realidade, que todas as decisões, sejam elas de alcance local, regional ou mundial, podem ser baseadas nas crenças, costumes e valores americanos. Enfim, são criticados pelo que fazem ou deixam de fazer.

Quase todas as críticas têm seu fundamento e contam, em parte, com meu apoio. É realmente muito irritante ver a arrogância americana, a indignação entre seu povo quando sofrem alguma ameaça ou atentado, mas não reparam que suas incursões militares despedaçam centenas de vidas e famílias em outros países. Provoca náuseas assistir a um filme de ficção holywoodiano em que o planeta terra mantém contato com outras civilizações e o centro das decisões do planeta sempre são os Estados Unidos. É deprimente ver que a grande maioria dos americanos sequer sabem que o Brasil existe, exceto pela Amazônia. São muitos os motivos que produzem uma antipatia natural com relação aos americanos, mas me pergunto: por que os criticamos tanto? Será que os criticamos porque realmente somos melhores ou o seríamos se estivéssemos ocupando a posição americana de ser a maior economia do planeta? Será que os criticamos porque se, caso, fosse o Brasil o país que ditasse as regras do comércio mundial elas seriam mais justas? Será que os criticamos porque se a indústria bélica brasileira fosse a mais rica e desenvolvida no mundo nós não patrocinaríamos nenhuma guerra que fosse gerar divisas ao país? Será que os criticamos porque se nós tivéssemos a melhor indústria mundial de cinema, a maior produção musical, um comércio de alimentos empreendedor e criativo que criasse novos costumes alimentares, uma massa crítica formadora de novos costumes, comportamentos, condutas e valores, nós não permitiríamos que esse predomínio alcançasse culturas e países vizinhos? Será que os criticamos porque se nossas empresas se tornassem multinacionais elas seriam menos predadoras e não remeteriam o lucro auferido nos países onde se instalaram ao Brasil?

Por que não olhamos para o nosso próprio umbigo. Talvez o motivo de tanta crítica aos EUA seja porque somos iguais, porque já fazemos o que eles fazem dentro de nosso território. Os habitantes da Grande São Paulo e arredores, onde existe uma concentração industrial, crêem que o Brasil que produz se limita a esse espaço. A população da cidade Rio de Janeiro imagina que o país se reduz a essa região e que os costumes ali existentes são práticas comuns de todos os brasileiros. Este mesmo raciocínio se repete na relação de praticamente todas as capitais estaduais com o interior dos estados, tendo-se a crença que tudo deve ser decidido e deve ser baseado na realidade da capital. E assim sucessivamente, onde cidades maiores tendem a determinar a conduta, o comportamento e os valores para as suas dominadas menores. O Brasil também tem um comportamento tipicamente imperialista na sua relação com países menores, de menor poder econômico. Os brasileiros torcem o nariz quando se fala de Paraguai, porque a memória os remete tão somente à imagem gerada por Ciudad Del Este, fonte de renda dos “trambiqueiros” brasileiros. Poucos conhecem a cultura e as diferentes realidades paraguaias, exatamente como os americanos em sua relação com o Brasil. Quando falamos em multinacionais, achamos maravilhoso a PETROBRÁS divulgar um lucro recorde em sua história, boa parte dele auferido em outros países, com a mesma força predadora de empresas americanas. Quando falamos de música, achamos muito bonito chegar em Santiago, no Chile, por exemplo, e perceber que a música brasileira tomou conta da cidade e do país, seja ela, samba, pagode, axé ou MPB, influenciando e determinando novos costumes e valores naquele país. Quando a indústria brasileira vislumbra a possibilidade de ser o maior produtor de bio-combustível mundial, já se aventa a hipótese de dominar o mercado com o único interesse de garantir a lucratividade do setor no Brasil. E assim podemos continuar citando exemplos de comportamentos individual, organizacional e de país que se assemelham muito aos dos EUA em sua relação com o mundo.

Esta postura brasileira ficou evidente na recente visita do Presidente Lula ao vizinho país Paraguai. O Brasil, as empresas brasileiras, enfim, o povo brasileiro é tão ou mais imperialista que os detestados americanos. Muitos políticos paraguaios, diversos órgãos de comunicação e diferentes manifestações da população expressaram o verdadeiro sentimento do povo paraguaio para com os brasileiros e suas empresas. O senador Miguel Abdón Saguier disse em alto e bom tom, no Jornal ABC Color do Paraguai o que boa parte do povo paraguaio sente: "porque entregamos nossa soberania ao Brasil. Eles são donos do nosso presente e do nosso futuro e, pior, o Governo cruza os braços, satisfeito com as migalhas jogadas a nós vindas do outro lado da fronteira”. É este sentimento muito diferente daquele que nós expressamos com relação aos Estados Unidos? Ou simplesmente reforça que nós detestamos os Estados Unidos porque somos iguais a eles, apenas que estamos em pior situação?

Por isso vem à mente uma citação bíblica, “como podes dizer a teu irmão, deixa-me tirar o cisco que está no teu olho, não vendo tu mesmo a trave que está no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho; e então verás bem para tirar o cisco que está no olho de teu irmão...”. Desta forma, acredito que todas essas manifestações contra os Estados Unidos, independentemente da justiça de seus apelos, devem servir para que também vejamos a trave em nosso olho, porque no fundo as críticas são muito mais fundamentadas pelo fato que Brasil não está ocupando a situação que os EUA ocupa no cenário mundial. Na verdade não há uma preocupação real de resolver algum problema, porque caso fosse essa a preocupação resolveríamos primeiro os nossos problemas. Por fim, o que realmente nos incomoda e provoca as críticas aos EUA é o fato de sermos iguais a eles, com a diferença que os americanos detém conhecimento, têm poder econômico e político, resultado de uma democracia organizada há vários séculos, enquanto nós continuamos com a nossa república das bananas.

domingo, 25 de maio de 2008

Insanidade Orgulhosa

Moacir Jorge Rauber
Há um orgulho insano, para muitas pessoas, no fato de viver numa cidade grande. Quantas vezes já se confrontaram com situações onde se ouve a explanação de um “importante” morador de uma grande cidade dizendo para o “pouco importante” morador de uma cidade pequena: “mas aqui não existe nada para se fazer!” Essa relação se dá frente a praticamente todas as grandes cidades, supostamente mais “desenvolvidas”, com relação as pequenas cidades, supostamente “menos desenvolvidas”. São muitos dos habitantes de São Paulo e do Rio que não se imaginam vivendo fora da “loucura” da vida moderna que esses centros lhes proporcionam; são muitos dos habitantes de Florianópolis que não se imaginam vivendo em Chapecó ou outra cidade do interior; são muitos dos habitantes de Chapecó que não se imaginam vivendo em São Carlos; e assim sucessivamente. E, sempre a principal argumentação de um com relação ao outro continua sendo que nas povoações menores não há nada para se fazer.

Muitos dos habitantes de São Paulo vivem em bairros mal iluminados, violentos e, muitas vezes, com pouca infra-estrutura básica. Além disso, estão distantes do trabalho, entre uma e duas horas, que os obriga a se levantar praticamente de madrugada. A partir desse momento, começa toda a movimentação. Toma-se um banho rápido, pega-se um ônibus, enfrenta-se um engarrafamento e depois de toda essa agitação chega-se ao trabalho, muitas vezes atrasado. Depois de um dia tumultuado, no qual não se tem tempo para pensar nas suas necessidades e nas de seus familiares e amigos, retorna-se para casa. Logicamente, depois de enfrentar novo engarrafamento, completamente exausto. Em função da “importância que a pessoa tem para o sistema”, cada vez menos se tem noção do que seja um final de semana ou domingo completamente sem nada para fazer. E cada cidadão tem a impressão de continuar sendo imprescindível para que todo o sistema continue funcionando.
Essa rotina se repete em cidades como Florianópolis, Curitiba, Porto Alegre entre outras tantas capitais brasileiras, onde as pessoas são apenas mais uma no meio da multidão. Quando, por fim essas pessoas têm uma semana de folga ou mesmo um mês de férias, vão buscar suas origens nos parentes das cidades pequenas. Nesse passeio os encontram morando na mesma rua, na mesma casa ou no mesmo sítio, com a mesma rotina de 10, 15 ou 20 anos atrás. Encontram-se e começam as conversações: E aí, como está? Que é que você está fazendo? pergunta o morador “pouco importante” da cidade pequena. E lá vem respostas tipo, do “importante morador da cidade grande”: Tudo bem! Estou trabalhando numa empresa assim e assado, sem ela o mundo pára, meu trabalho é incrível. Começo pela manhã e trabalho até a noite, enfrento uns engarrafamentos tremendos. Às vezes chegam a durar duas horas sem se mexer. É que lá, na capital, tem muita gente, muitos carros, e tudo vira uma loucura. Toda essa explicação acontece de uma forma totalmente orgulhosa, por fazer parte de um “importante sistema” que transforma as pessoas, sem que muitas delas se apercebam, em “necessidades e necessitados do mercado”. Após essa eloqüência orgulhosa vem a pergunta: E aqui, o que vocês fazem?
A melhor e mais prazerosa resposta somente poderia ser Nada! Isto porque nas cidades menores e no campo ainda se tem tempo para não se fazer Nada. Ainda se tem tempo para admirar uma linda paisagem, para ouvir o canto de um pássaro, para observar as águas de um rio deslizando mansamente em seu leito, para tirar o leite de uma vaca, sabendo que ele vai servir de alimento. Tudo isso porque nas cidades pequenas ainda resta tempo para ouvir o silêncio ou mesmo para não fazer Nada. Na vida no interior ainda se reserva tempo para lembrar que as atividades de qualquer pessoa são perfeitamente substituíveis por qualquer outra pessoa que as execute da mesma forma, mas que as pessoas são únicas e insubstituíveis. Isto enquanto milhões de pessoas perderam sua individualidade e já não sabem viver sem consumir, sem comprar, sem estar no tumulto, sem viver num turbilhão de ruídos, poluição, entre outros males produzidos pelas grandes cidades, sendo insanamente orgulhosos por isso.

sábado, 10 de maio de 2008

Faxineiro ou Colaborador, qual a diferença?

Moacir Jorge Rauber

Estava totalmente absorto em meus pensamentos, sentado num dos lugares mais propícios para o exercício da abstração. Lugar iluminado de onde surgem inspirações as mais diversas para a resolução de muitos problemas, bem como idéias absolutamente absurdas e inúteis. O espaço onde eu estava era exageradamente grande, assim como de todas as instalações do banheiro, pois ele era usado por mais de cem pessoas diariamente, exceto neste período de férias. O silêncio e o isolamento eram encantadores, principalmente para o que eu estava fazendo, mas repentinamente foi quebrado pela chegada de alguém. Ouvi seus passos, mas somente pude identificá-lo quando se aproximou da linha de pias e torneiras bem em minha frente, que eu via pela fresta deixada pela porta estilo saloon do velho Oeste. Para minha surpresa o rapaz encostou numa das pias, normalmente usada por todos para lavar as mãos, escovar os dentes e outras rotinas da higiene pessoal, e urinou tranquilamente, como se ali fosse o local apropriado para esse fim. Fiquei impressionado e revoltado. Ele não me havia visto, mas eu sim. Por isso falei: “Faxineira ou colaboradora?” Ele se assustou.

Fiz esse comentário porque justamente naquela manhã, enquanto tomávamos café, outro colega nosso teve um pequeno acidente deixando cair seu copo de leite. Ao ver o tamanho da sujeira no chão exclamou: “Caramba, vou ter que chamar a faxineira!” Ouvindo essa exclamação o rapaz que urinou na pia disse, em tom de censura: “Não se chama mais uma pessoa que faz serviços gerais de faxineira, pois ela é uma colaboradora”, e continuou explicando que o termo desqualifica e desmerece a pessoa que executa esses trabalhos, entre outras alegações. Concordo que, se possível, devemos ir adequando as terminologias usadas para o tratamento das pessoas e das profissões, humanizando-as e retirando delas toda a carga pejorativa possível. Temos assistido a evolução de inúmeras terminologias nas empresas e no cotidiano. Nas empresas vemos debates e discussões sobre o uso de expressões como Departamento de Pessoal, Área de Recursos Humanos até chegar a Gestão de Pessoas. No relacionamento com as pessoas assistimos a evolução da terminologia usada no tratamento das Pessoas com Deficiência, que iniciou com o termo Deficiente, passou por Pessoas com Necessidade Especiais e chegou àquela. Todas essas discussões que levam a evolução das formas de tratamento são válidas, mas acredito ser muito mais importante a adequação do comportamento e das atitudes das pessoas para com os seus semelhantes, sejam eles de profissões menos reconhecidas ou de minorias.
Especificamente neste caso o colega que urinou na pia fez todo um discurso daquilo que considera ser politicamente correto, mas por outro lado desmereceu não somente a profissão de faxineiro, mas principalmente a pessoa que ele conhecia e que fazia o serviço diariamente. Esta profissão é uma das mais merecedoras de nossa admiração e nosso respeito, não somente pelo uso adequado da terminologia com que a designamos, mas principalmente pelo respeito com que tratamos aqueles que a exercem. Transforme o faxineiro em colaborador pelas atitudes, não pelo discurso.

domingo, 27 de abril de 2008

A Amazônia e o nosso quintal...

Moacir Jorge Rauber
Sempre que se exibe uma matéria jornalística, seja na televisão, jornal ou qualquer outro meio de comunicação sobre a Amazônia fica flagrante que o grau de destruição da floresta e de toda a biodiversidade por ela abrigada é muito maior do que se poderia imaginar. Normalmente se gera um clima de comoção geral e o despertar para uma necessidade de que é preciso fazer algo. Essa premência para se fazer algo, estimula a criação de inúmeras ONGs e outros movimentos a promoverem campanhas contra a degradação ambiental desta região. No período de exibição da Minissérie Amazônia pela Rede Globo, parte dos atores que participaram das gravações na própria floresta amazônica se mobilizaram para chamar a atenção da comunidade em geral e, quem sabe, reverter esse quadro.
Uma das iniciativas foi a divulgação de um manifesto em favor da floresta, que entre outros tantos alertas fala "a Amazônia não é o pulmão do mundo, mas presta serviços ambientais importantíssimos ao Brasil e ao Planeta. Essa vastidão verde que se estende por mais de cinco milhões de quilômetros quadrados é um lençol térmico engendrado pela natureza para que os raios solares não atinjam o solo, propiciando a vida da mais exuberante floresta da Terra e auxiliando na regulação da temperatura do Planeta". O manifesto, legítimo, relembra a morte de muitos que se opuseram as diferentes formas de exploração dessa área, produzindo um impacto imediato em diferentes esferas da sociedade brasileira e mundial. São mais artistas que se engajaram na luta; são administradores, contadores, advogados, biólogos, donas de casa, entre outros representantes das mais diversas profissões a aderirem ao manifesto, deixando sua assinatura no site
www.amazoniaparasempre.com.br. Levou as pessoas nas ruas a comentar e apontar como os grandes malfeitores, principalmente, os fazendeiros, que somente querem plantar soja e expandir suas criações de gado, atrás de um lucro fácil.
Não que eu não seja a favor da preservação da Amazônia e toda sua riqueza natural, muito pelo contrário, creio que cabe uma ação direta, objetiva e imediata por parte das autoridades brasileiras e mundiais para que se apresente uma solução definitiva para o problema, mas também me pergunto: caso esses “ambiciosos e desalmados” fazendeiros, entre outros agentes que tem alguma participação direta na destruição da Amazônia, viessem até as nossas as nossas casas, as nossas comunidades, os nossos bairros e nossas cidades, que tipo de manifesto eles poderiam fazer? Faço a pergunta por que devemos lembrar que onde hoje nós confortavelmente moramos e organizamos nossas ONGs, em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Brasília, Goiânia, entre outras grandes cidades, já foi Mata Atlântica ou outro tipo de vegetação típica, tão ou mais exuberante que a própria Floresta Amazônica. Desta forma, com que direito nos arrogamos a prerrogativa de somente apontar os erros no “quintal do vizinho”, quando não sabemos cuidar do nosso? Ao mesmo tempo em que pedimos soluções para a preservação da biodiversidade presente na Floresta Amazônica, que devem ser tomadas, devemos lembrar e tomar atitudes quanto a nossa relação com o meio ambiente onde nós vivemos. Ou será necessário que os fazendeiros da Amazônia venham nos mostrar e nos lembrar, por meio de algum manifesto, como estão nossos rios e lagos que cortam nossas cidades. Devem eles também nos lembrar como estão nossas praias próximas aos grandes centros urbanos. Devem eles nos lembrar como estão nossos lixões, que contaminam os lençóis freáticos. Devem eles nos lembrar como estão nossos morros, antigos hospedeiros da floresta atlântica, irremediavelmente devastados por ocupações irregulares. Devem eles nos lembrar como utilizamos mal nosso veículos, poluindo o ar, que também é do planeta, de forma a torná-lo irrespirável. Devem eles nos lembrar de tantos outros danos ambientais que diariamente nós cometemos para manter nosso padrão de vida equivocado presente em todas as cidades brasileiras.
Também é necessário que lembremos que quando se constrói uma casa com artefatos de madeira, sempre que abrimos um litro de suco a base de soja, toda vez que comemos nossa sagrada carne de todos os dias, ou quando consumimos qualquer tipo de produto, como nossas roupas, nossos calçados, trocamos nosso carro, compramos um celular, entre outros exemplos, contribuímos para que se derrubem mais algumas árvores lá na Floresta Amazônica, mesmo que ela esteja a milhares de quilômetros de nós. Devemos lembrar que nosso padrão de consumo está muito além daquilo que o planeta nos pode suprir de recursos naturais. Devemos lembrar que se nós não mudarmos nossos desejos exacerbados de consumo, em todas as áreas, a Amazônia e outros locais onde a natureza ainda se encontra preservada, seja no Brasil ou na China, serão paulatinamente destruídos por nós. Certamente se devem tomar medidas drásticas e imediatas para que a destruição da Floresta Amazônica e de tudo que ela representa seja interrompida, mas também devemos fazer a nossa parte. Pensar em estimular ações na nossa comunidade que preservem a natureza, que se consuma menos, que se reaproveite mais. Isto porque aquele que empunha o machado, que levanta a moto-serra ou que conduz o trator que está acabando com a Floresta Amazônica é tão somente um agente, pois quem realmente derruba a árvore somos nós, consumidores.

Será que “ser humano” ainda é “humano”

Moacir Jorge Rauber

Ainda podemos considerar humano como bom? Segundo o dicionário Aurélio, humano é tudo que é relativo ao homem, com a característica de bondoso, afetuoso, sensível, compassivo, terno e sentimental, que nos leva a pensar em ações humanitárias, visando ao bem-estar da humanidade. Humano também pode ser traduzido como amor aos semelhantes e, ao se falar da doutrina filosófica do humanitarismo, o mesmo dicionário fala que se trata da busca da eliminação das injustiças reinantes no mundo a fim de alcançar a felicidade humana.
Normalmente, em oposição ao que é humano encontramos a palavra animal. Daí se pergunta: tudo que for “animal” obrigatoriamente deve ser considerado como mau? Novamente buscando a definição no dicionário Aurélio ela nos remete a idéia de “qualquer animal que não o homem; ser irracional”. Em seu sentido figurado animal expressa a idéia de “pessoa desumana, bárbara, cruel”, ou ainda “pessoa muito ignorante, estúpida”. São estas algumas das definições encontradas no citado dicionário para o sentido normalmente dado a estas palavras em seu uso cotidiano pelas pessoas.
O questionamento não é quanto à correção semântica das palavras, mas quanto ao seu verdadeiro sentido como resultado das ações realizadas e comparadas, derivadas dos humanos e dos animais, de onde se extraiu o sentido ratificado em dicionários e no uso pelas pessoas. Questiona-se o conceito das palavras e sua relação com a realidade. Tomando-se como exemplo as ações humanas atuais, que são conscientes e racionais, comparando-as com as ações dos animais, que são instintivas e irracionais, percebe-se que as primeiras não têm nada ou pouco de humano, conforme o sentido encontrado no conceito da palavra.
As ações “humanas” e da humanidade, apesar de toda evolução técnica e do conhecimento científico acumulado, têm levado à guerra e morte de milhões de pessoas, bem como a extinção de milhares de outras espécies no atual estágio evolutivo da sociedade “humana”. Derivadas desse estágio “evolutivo humano”, as ações mais comuns a nossa espécie são a competição, na busca incessante pelo melhor posto de trabalho; a concorrência, para desenvolver o melhor produto; o consumo, para ostentar a melhor posição social; os roubos, os assaltos, os assassinatos e os seqüestros, para conseguir tudo aquilo que a sociedade julga importante ter. Estes últimos itens são as opções para aqueles que foram excluídos do grupo que conseguiu alcançar tudo que deseja pelo caminho da “legalidade”. Legalidade aparece entre aspas, porque faz-se necessário questionar se pode ser legal o fato de que ações excluem outros da mesma espécie, gerando uma sub-espécie. As ações humanas também atingem a “bestialidade”, referindo-se ao demônio e não ofendendo o animal “besta”, quando se estupra, para alcançar o gozo preconizado na mídia e incorporado pelo senso comum, levando os pobres diabos a buscar o que não se consegue, mas imagina existir; ou quando se tortura, de forma física ou psicológica, nas relações pessoais ou no trabalho, para se saciar a sede de poder veiculada como fonte de prazer. Todas essas ações “humanas”, somente para citar algumas, têm gerado a ansiedade, daquele que as faz e daquele que as sofre, atormentando as pessoas ao sobrepujar valores morais e éticos, instintivos. Resultado de uma sociedade aflita e mortificada, onde o sentimento de culpa pelo fracasso de, eventualmente, não obter tudo que é divulgado como necessário para ser um sucesso, quando não leva a matar, pode levar ao suicídio, sendo de uma crueldade feroz e animal. Ou melhor, de uma crueldade feroz e “humana”? Portanto, grande parte das ações “humanas” são baseadas na falsidade, no embuste, na mentira, constituindo-se numa sociedade desleal e anti-ética.
Por outro lado nas ações dos animais também existe competição, mas tão somente para manter-se vivo; também existe a morte, mas somente para garantir o direito a vida, dentro de uma relação de dependência natural; também existe o consumo, mas sem a necessidade de acúmulo de riqueza; também existe o gozo e o prazer, mas tão somente para a continuidade da espécie, não para atender aos anseios de nenhuma indústria. Nas ações animais não existem assassinatos, não existem roubos, não existem estupros, não existem guerras, justas ou injustas. Nas ações animais não existem seqüestros, não existem torturas, não existe a ansiedade que corrói a alma. Nas ações animais existem apenas ações que preservam a vida, em primeiro lugar da própria espécie, sempre baseadas na transparência do comportamento ético dos instintos de cada espécie, sendo ações leais e verdadeiras.
Após essa comparação, como podemos nós, “humanos”, dizer que “humano” é bom e que “animal” é cruel, quando nossas ações cotidianas e nossa forma de organização social nos desmentem? Como podemos nós nos classificarmos de racionais e as demais espécies de irracionais, quando nós, “humanos”, estamos racionalmente destruindo-nos e a todas as espécies? Há, portanto, um erro na conceituação dessas duas palavras, podendo praticamente inverter o sentido de cada uma delas, passando “humano” a ser considerado cruel e bárbaro, enquanto uma ação “animal” se refira, não exatamente a bondoso, mas pelo menos a leal e ético. Portanto, cabe a nós, representantes da espécie humana, ressignificar o valor semântico da palavra “humano”, ou melhor, por meio de novos padrões de comportamento fazer valer o atual significado. Isto é, fazer ser “humano” novamente como algo realmente bom, valorizando comportamentos éticos e morais, que sejam eles baseados nos instintos, mas que nos possibilitem a preservação da nossa espécie, das demais e do nosso planeta. Para tanto, ao invés de sobre valorizar a competição, valorizemos a colaboração; ao invés de sobre valorizar a disputa, valorizemos a cooperação; ao invés de sobre valorizar o ter, valorizemos o ser; porque ainda é possível e bom ser “humano”!