A proposta ao redigir este blog, Opinião, um texto para ler, avaliar, criticar e se posicionar, por meio de atitudes!, é de abordar assuntos que vão desde temas ambientais, profissionais e pessoais, deixando uma mensagem crítica com relação a eles e expressado mais uma de nossas FACETAS!
Não se pretende por meio da coluna obter apoio, muito pelo contrário, busca-se a avaliação, a crítica e o posicionamento dos leitores frente ao tema, exercitando a cidadania no ato de repensar nossas atitudes, fazendo com que cresçamos como pessoas. Além das críticas, sejam elas favoráveis ou contrárias a idéia apresentada no texto, o importante é que a leitura da coluna resulte em atitudes afirmativas frente ao problema tratado.
Pensar diferente não é o problema, o problema é não pensar!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Ética contra a corrupção

Moacir Jorge Rauber
- “Olha, acredito que o preço deste DVD até possa baixar em função da queda mundial do dólar, mas neste momento é o melhor preço pelo melhor produto. Você deve saber que agora é a melhor escolha...”
E blá, blá, blá o professor de Ética da faculdade continuava seu discurso na sala dos professores ou nos corredores da instituição com os acadêmicos. Ele podia discorrer com enorme facilidade sobre as variantes de diferentes produtos eletrônicos, como DVDs, câmeras fotográficas, filmadoras, celulares, entre outros fazendo uma relação tecnologia, custo e benefício digno de um economista. Realmente impressionava a habilidade com que ele oferecia, argumentava e fechava o negócio, para em seguida vibrar demonstrando uma alegria genuína refletidos no brilho de seus olhos. Uma atividade extra para complementar a renda é uma atitude louvável, não fosse ele professor de ética numa faculdade que prepara futuros administradores de empresas privadas e também de órgãos públicos deste nosso país. Embora o fato de vender em si também não seria nenhum problema, caso o professor de ética tivesse uma empresa devidamente registrada para vender os seus produtos. E o mais incrível dessa história é o fato de ele ensinar ética concorrencial e vender produtos que entravam ilegalmente no país através da fronteira Brasil/Paraguai. Grande parte dos produtos são falsificados e sobre cem por cento deles os impostos não são pagos.
Lembrei-me deste fato quando li uma matéria jornalística que diz que a corrupção no Brasil é endêmica, segundo os resultados de uma pesquisa. Não é necessária uma pesquisa para detectar isto, basta observar o comportamento das pessoas nas ruas das cidades brasileiras. Quem carrega uma bolsa anda a ela agarrado como se fosse sua tábua de salvação, mas o motivo é que se não for assim alguém a leva. Quem tem uma bicicleta leva três cadeados, um para cada roda e mais um para o quadro. Ainda assim, muitas vezes, levam o assento. São exemplos simples, mas reais que podem ser vistos diariamente de norte a sul do Brasil. Segundo essa mesma reportagem seria necessário que a questão da corrupção devesse ser discutida nas salas de aula, desde o ensino fundamental, para que as crianças tivessem noção da gravidade da situação. Concordo que esse é um caminho. Logicamente que assunto não faltaria, porque teríamos todos os políticos para acusar de corruptos; teríamos as grandes empreiteiras para incriminar alegando que normalmente elas superfaturam uma obra em quase 20%; teríamos a elite dominante para culpar das mazelas da nossa sociedade; e assim não faltariam exemplos práticos de temas a serem debatidos. Mas também me pergunto, quem educará os educadores? Basta lembrar da história do professor de ética ou mesmo observar os professores da rede pública do ensino fundamental e médio para saber que são poucos os que poderiam ensinar sobre moral e ética, debatendo o problema da corrupção brasileira em sala de aula. Com que autoridade a grande maioria dos professores poderia debater estes temas, sabendo que é prática comum uma aula de cinqüenta minutos sofrer uma perda de dez minutos? Isso normalmente acontece pelo atraso do professor ou pela liberação antecipada dos alunos, mas representa os mesmos vinte por cento excedentes ou roubados pelas empreiteiras. Com o agravante que esses dez minutos perdidos por cada professor devem ser multiplicados pelos dez minutos de cada um dos alunos, de cada uma das salas de aula do país de quem esse tempo foi roubado. Tem-se aí um rombo fenomenal, digno de empreiteiras, políticos e da elite em termos financeiros, mas principalmente uma perda de valor inestimável na formação dos cidadãos brasileiros, que vão se acostumando com os maus exemplos desde cedo.

Por fim, fica a questão, quem vai ensinar ética ao professor de ética?

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá Moacir, parabéns pela sua lucidez. como sempre você nos brinda com excelentes e oportunas reflexões. obrigada por sua forma simples e generosa de se expressar. grande abraço, Ana Mari

Unknown disse...

Ana
Muito obrigado!
Um elogio vindo de ti tem um peso muito maior, embora gostaria que o texto pudesse ter tratado de um tema diferente.
Abraço